Resenha: Os cavaleiros do zodíaco – Saintia Shô #01

saintiaUma outra batalha…

Talvez seja difícil existir alguém que não conheça ou pelo menos não tenha ouvido falar da franquia Cavaleiros do Zodíaco. Febre no Brasil em meados dos anos 1990, devido à exibição do animê, a obra até hoje é bastante cultuada em nosso país por muitas pessoas, especialmente pelo fator nostalgia. Ainda assim, nem todo mundo está imerso na cultura japonesa ao ponto de saber absolutamente tudo sobre a série e seus derivados e, no máximo, conhece o animê ou, quando muito, também o mangá.

Criado por Masami Kurumada, Cavaleiros do Zodíaco (Saint Seiya, no original) é uma história em quadrinhos japonesa que foi serializada na famosa revista Weekly Shonen Jump, entre 1986 e 1990, resultando em 28 volumes encadernados. O título, com o tempo, virou uma enorme franquia, tendo obras derivadas em diversas mídias possíveis, tais como livros, história em quadrinhos, animações e jogos.

Atualmente há três mangás da franquia sendo produzidos no Japão, Cavaleiros do Zodíaco – Next Dimension (continuação da série original), Cavaleiros do Zodíaco – Episódio G. Assassin (Continuação de outra obra da franquia) e Os cavaleiros do zodíaco – Saintia Shô (primeira série a ser protagonizada por mulheres), que será nosso alvo de análise hoje.

Em Cavaleiros do zodíaco acompanhamos as aventuras de Seiya (o cavaleiro de Pegasus) e seus companheiros buscando proteger Saori Kido (a reencarnação da deusa Athena) e manter o mundo a salvo das ameaças do mal. Na série, os cavaleiros não usam armas e tem como única proteção as armaduras sagradas e, claro, seus golpes manifestados pela força de seu cosmo.

Saintia Shô

Em todas as obras da franquia, o ofício de cavaleiro era unicamente destinado aos homens e caso as mulheres desejassem seguir por esse caminho, deveriam esquecer-se de sua condição de mulher. Na série principal era comum vermos algumas guerreiras com o rosto encoberto, por exemplo.

As coisas são diferentes em Saintia shô, mangá escrito e desenhado por Chimaki Kuori, a mais nova obra da franquia a chegar ao Brasil. Neste mangá descobrimos que Saori Kido possui uma guarda especial, formada apenas por mulheres, visto que apenas elas podem cuidar das necessidades da deusa. Elas agem como damas de companhia da Athena, mas ao mesmo tempo são guerreiras de armadura, tal qual os cavaleiros.

Saintia seria, na verdade, o feminino de Saint (nome original dos Cavaleiros) e, tal qual eles, tiveram que passar por um longo treinamento, porém continuando com a sua condição feminina e sem a necessidade de cobrir o rosto, como acontecia com as mulheres guerreiras em outras obras da franquia.

A história do mangá se desenvolve em paralelo aos acontecimentos da série principal, mas – ao menos neste primeiro volume – não há necessidade de conhecer Cavaleiros do Zodíaco. Há o aparecimento do Cavaleiro de ouro de Escorpião, a menção à Guerra Galáctica e uma pequena cena mostrando os cavaleiros de bronze, entre outras, mas nada disso interfere no entendimento da história. Neste momento, são coisas jogadas no ar como em qualquer outro mangá e que você espera que sejam desenvolvidas no futuro. Se Saintia Shô for um mangá bem construído, conseguirá amarrar bem todos os pontos e o leitor de primeira viagem não se sentirá confuso ao entrar no universo dos Cavaleiros do Zodíaco por meio dessa obra. Mas como é verdadeiramente a história? Qual a trama? É disso que falaremos agora.

História

Em Saintia Shô acompanhamos a história de Shoko, uma garota que passou os últimos anos treinando artes marciais e tornou-se bastante forte por causa disso. Shoko possui uma irmã chamada Kyoko que, cinco anos antes, foi escolhida por uma fundação para estudar no exterior e, desde então, não deu sinal de vida. Constantemente, Shoko tem um sonho esquisito (que depois, se descobrirá ser uma lembrança do passado) em que está prestes a ser mordida por uma cobra, mas acaba sendo salva por um homem de armadura.

As coisas caminham bem até que Shoko descobre que Saori Kido – herdeira da fundação que levou sua irmã – está estudando no mesmo colégio que o seu e decide falar com ela. A partir daí uma série de acontecimentos começa a mudar a vida de Shoko como o reaparecimento Kyoko (agora como Saintia) e, principalmente, com o ataque das servas de Éris (a deusa da discórdia) que fará a garota pedir para Saori a transformar em uma Saintia.

Desenvolvimento

Saintia shô, assim como os demais mangás da franquia Cavaleiros do Zodíaco, é uma obra de batalha, quase totalmente focada apenas em lutas mesmo. Embora tenhamos um pouquinho de humor aqui e ali e uma ou outra passagem para conhecermos os personagens, o foco da narrativa é a trama envolvendo o futuro surgimento de Éris e o desejo dela de acabar com a paz do mundo.

Por ser uma obra focada em batalhas, a gente verá aqueles velhos clichês de battle shonens, com o surgimento de personagens do nada para “salvar o dia”, uma resistência sobre-humana dos protagonistas e reviravoltas que você não poderia esperar de jeito nenhum, para o bem e para o mal. E em se tratando de Cavaleiros do Zodíaco, esses “surgimentos” e essas “reviravoltas” podem soar demais inacreditáveis para quem não conhece e não se acostumou com a franquia.

Esse tipo de clichê acaba sendo muito ruim em um mangá, porém Saintia Shô consegue superar esse obstáculo e acaba agradando aos nos apresentar bons personagens (ainda que eles também sejam bastante clichês) e uma narrativa que é, de certo modo, até bem construída: há uso o constante e consciente de flashbacks para nos esclarecer alguns detalhes da história, bem como toda uma construção da trama de modo que o leitor queira continuar a ler mais e mais. Mesmos as reviravoltas que ocorrem do nada não chegam a ser ruins, como em outros mangás.

No entanto, Saintia Shô está longe de ser uma obra perfeita ou que agrade todo mundo. Decerto é um mangá para quem gosta de battle shonens. Entretanto para quem já está cansado desse tipo de narrativa, Saintia Shô parecerá mais um título dispensável, pois não nos apresenta aquele “algo mais” e fica no básico da luta do bem contra o mal, do puro e simples entretenimento.

A edição brasileira

A edição brasileira foi publicada no formato 13,5 x 20,5 cm, miolo em papel jornal e páginas coloridas em couché, além de capas internas coloridas, isso tudo por R$ 15,90.

De um modo geral, considero a edição muito boa, sem erros de revisão e nada que chamasse a atenção no texto. Achei o papel jornal utilizado bom também. Ainda não é (ou pelo menos não parece) aquele papel utilizado em Lúcifer e o martelo, mas mesmo assim não há nada a reclamar. As páginas coloridas estão muito boas também, ao ponto de você desejar que um dia os japoneses façam uma versão 100% colorido desse mangá.

Em relação ao preço, vi muita gente dizer que o mangá estava muito caro, mas eu discordo. Ele é um real mais caro do que os mangás em papel jornal sem páginas coloridas. Tirando uma ou outra exceção, nos últimos anos os mangás com páginas coloridas da editora são sempre um real mais caros do que os que não têm, então o preço está de acordo com sua qualidade, dado que os mangás de todas as editoras têm subido de preço.

Veredicto

Como dito acima, Saintia Shô não é um mangá para todo mundo. Se você é fã da franquia Cavaleiros do Zodíaco, compre sem medo, vai te agradar. Se você é fã de battle shonen, compre sem medo também. Trata-se de um bom entretenimento e vale muito a pena.

Agora se você não gosta da franquia ou de mangás de “lutinhas”, há outros melhores para você investir^^.

Você pode comprar Saintia Shô, com desconto, na Amazon (clique aqui) ou na Saraiva (clique aqui). No site da editora, a assinatura também está aberta, com 10% de desconto e com direito a brindes.

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BBM

17 Comments

  • elianeeli

    Para um trabalho acadêmico, eu não sigo animes… Esta versão da obra é original ou derivada? É que estou fazendo um trabalho sobre Direitos Autorais!

    • As duas coisas. Ela é uma obra original derivada de uma outra obra (no caso, Cavaleiros do Zodíaco). E o autor de Cavaleiros do Zodíaco assessora a autora de Saintia Shô.

  • Bem, falando do mangá em si, curti bastante a leitura!

    Saintia Sho não é brilhante nem nada, mas é super bem-feito com traço bem bonito e personagens bem interessantes (até a Saori!) Bem empolgado pra ver mais participações de outros personagens da saga clássica.

  • Que coisa. Li alguns comentários por cima e percebi uma coisa. Tem muita gente mais preocupada com o tipo de papel do que com a história em si. Por isso que mangá é considerado “coisa de criança”.

  • Takashi

    Papel jornal é uma bosta , só compra quem é idiota. se bem que nesse país ta cheio de otaquinho pobre e é a única opção dessas editoras lucrarem aqui .

    • Na verdade, é uma minoria que pensa assim. Parece que é muito porque as mesmas pessoas estão sempre reclamando e quase ninguém elogia os mangás em papel jornal. Mas se notar bem, quase não verá pessoas reclamando do papel de Lovely Complex, Arakawa, etc.

      Se ver mais direitinho, encontrará gente elogiando o papel de Tokyo Ghoul, por exemplo. E se caçar mais encontrará gente que odeia offset porque “cheira mal” ou porque “não serve para mangá”.

      Ou seja, existe todo tipo de “especialista” em papel e, no fim, é tudo uma questão de preferência.

      Mas a maioria das pessoas não liga se o mangá é em papel jornal ou mesmo para o tipo de papel.

      • Pode até ser Kyon. Mas vai na página da Jbc pra ver o quanto de gente reclama de um mangá quando vem em papel jornal.
        Vi gente reclamando pelo fato de HumterXHunter, uma mangá que começou a ser publicado aqui em 2008(creio eu), reclamando porque o título veio em papel jornal. Quando foi informado que My Hero Academia viria em papel jornal, a galera pirou.
        Não entendem que Shounen Jump vem em formato padrão. Quero ver quando divulgarem as informações de Nisekoi, e descobrirem que o mangá virá em formato padrão.
        Esse pessoal quer luxo, mais fica reclamando dos preços dos mangás quando custa R$17,90, e reclama que a editora tá lançando coisa de mais.
        Mal sabem que o papel jornal é um formato padrão para pessoas que não podem arcar por um mangá mais caro, ou por quem acompanha muitos mangás.
        Esse formato acompanhou o amadurecimento do nosso mercado brasileiro de mangás, não sei porque querem o fim dele.

        • Sei lá, isso me parece mais o “fator JBC” do que qualquer coisa.
          Por “fator JBC” entenda o seguinte: de um lado você tem a divulgação da editora sempre fazendo postagens e relembrando os dados técnicos da obra e de outro você tem os haters. Junta os haters com a minoria que realmente não gosta de papel jornal e você tem uma ilusão de que muita gente odeia papel jornal.

          A Panini, por outro lado, quase sempre só divulga as informações no momento do checklist e evita atrito. Tipo, na página da Panini você até vê uma pessoa ou outra falando que preferia papel offset, mas não é em tão grande profusão. É mais comum você ver as pessoas reclamando do acabamento de Naruto Gold, assinatura, etc, do que ver uma pessoa xingando a editora por ter publicado um mangá popular em papel jornal.

          —–

          O caso de My Hero Academia, em específico, é diferente: muita gente esperava o título pela Panini (afinal Shonen Jump em andamento é raro pela JBC) e eles acharam que se fosse a italiana ela publicaria no mesmo formato de OPM, Vi até gente da “imprensa especializada” (pfff) falando essa besteira. Dificilmente seria assim, afinal o padrão da Panini é lançar mangá em papel jornal.

          ——-
          Só um adendo sobre papel:

          Em algumas páginas de editoras de livros ou grupos de Facebook volta e meia há uma discussão sobre papel usado nos livros, se o melhor é o branquinho (offset) ou o mais amarelado (offwhite / polén). Há discussões fortes e sérias cada um puxando o assunto para um aspecto. Mas isso é uma discussão da internet com um público bem restrito.
          As pessoas “da vida real” não ligam para o tipo de papel. Estudei Letras durante quatro anos, comprava muitos livros, conversava com as pessoas e nunca surgiu qualquer papo sobre papel. Ninguém se importava. Ninguém ia deixar de comprar um livro por ser em offset, por exemplo.

          Eu acredito que a maioria dos consumidores de mangás também são assim. A maioria deles não deve se importar com o tipo de papel, preocupando mais com o preço do que qualquer coisa…

    • anon

      Bom, é uma questão de preferência, mas ultimamente quando estou em dúvida se compro ou não tal mangá, caso ele seja em jornal deixo passar, mas se for uma série que já conheço e gosto muito, então compro mesmo assim.
      No caso, estou pegando Saintia Sho e gostei do papel mais branquinho, mas o meu problema com papel jornal é que acho que ele estraga/amarela mais rápido, pelo menos comparando mangás antigos, os em sulfite da mesma época estão em melhor estado que os em jornal, sem falar do cheiro que me dá um pouco de alergia…

      Mas acho que não precisa ser 8 ou 80 e só lançar em jornal ou só em sulfite. Faz sentido lançar mangás voltados para um público mais jovem em jornal por conta do preço mais acessível; já relançamentos acho que não faz sentido lançar em jornal pois quem comprou a edição anterior não teria motivo para trocar pela edição nova; e alguns títulos voltados para um público mais adulto acho que podem vir em sulfite ou uma qualidade melhor em geral pois podem chamar a atenção de quem não costuma colecionar mangás também. Se bem que aí tem a NewPop, que lança tudo em sulfite lol

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