O clássico de volta…
Lobo solitário é um mangá de autoria de Kazuo Koike e Goseki Kojima, hoje considerado um clássico do mundo dos quadrinhos japoneses. Publicado entre 1970 e 1976, a obra foi concluída em um total de 28 volumes e se tornou, no ocidente, um ícone por ter influenciado artistas de renome, como o aclamado Frank Miller, autor de Ronin. Por causa disso, é um dos poucos mangás que não sofrem rejeição de leitores de comics aqui no Brasil, visto que Lobo solitário é considerado um quadrinho “adulto” por esse público, diferenciando-se de histórias “infantis” como Dragon Ball.
A obra, porém, vai além disso e tem uma importância histórica também muito grande em nosso país para os fãs de quadrinhos de japoneses, pois foi o primeiro mangá a ser publicado no Brasil, ainda na década de 1980, pela editora Cedibra. Na ocasião obra não foi concluída, sendo lançados apenas 9 volumes dos mais de 40 previstos (o mangá tinha leitura ocidental e seguia uma edição americana). Posteriormente, foi relançada pela Nova Sampa em duas oportunidades, igualmente não concluídas. Em dezembro de 2004, a Panini iniciou sua publicação e o concluiu finalmente em nosso país, em 2007. Esgotado há anos, a obra retornou em dezembro de 2016 para mais uma passagem em nosso país, buscando conquistar novos leitores e se consolidando mais ainda como o mangá mais relançado em nosso país.
Mas o que Lobo solitário tem de tão especial assim para ainda hoje ser alvo de aclamação? Todos sabem como mangás antigos são difíceis de virem ao país e, no entanto, Lobo solitário está aí com mais uma participação nas bancas brasileiras. Será que ele é tão bom quanto dizem e conquistará novos leitores? Ou é uma obra super-estimada? Veremos agora…
Sinopse oficial
Lobo solitário é tido como notório retrato fidedigno da época de ouro dos samurais, o apogeu da Era do Shogunato, também conhecida como Período Edo (1603–1868). Na obra acompanhamos o caminho sangrento de Itto Ogami e seu filho Daigoro, em busca de vingança contra a poderosa e influente família Yagyu, braço direito do Shogun, que orquestrou das sombras a ruína do clã Ogami.
Contexto
Lobo solitário faz parte de um rol de histórias que se passa na época feudal japonesa, um período de mais de 700 anos marcados por lutas e disputas pelo poder. A obra de Kazuo Koike e Goseki Kojima se situa em um período bem mais recente dessa história, o Período Edo, no qual o Governo foi centralizado novamente pelo Shogun e tratava com mãos de ferro os senhores feudais do Japão, chamado de Daimyous, a fim de que eles pagassem todos os altos impostos por eles cobrados.
Nesse ínterim de controlar os Daimyous e reter os impostos devidos, havia espiões, assassinos e executores a serviço do Shogun. Os espiões, logicamente, buscavam descobrir sinais de contrariedade. Os assassinos eram encarregados de matar quem pudesse vir a se tornar uma ameaça para o Governo. E os executores tinham uma única missão, arrancar a cabeça fora dos senhores feudais condenados ao Seppuku (conhecido ato de suicídio em que o sujeito enfia uma espada em sua barriga e um outro, para evitar-lhe sofrimento maior, corta-lhe a cabeça).
Mesmo tendo um único trabalho, para ser um executor era preciso ser um homem de extrema habilidade, pois precisava cortar a cabeça com um só golpe, mesmo que vítima se mexesse. Assim, os executores eram por si só dotados de um grande respeito no Shogunato.
História e desenvolvimento
Itto Ogami, protagonista da história, era um executor do Shogunato e sua família muito respeitada, porém devido a uma trama da família Yagyu, seu clã foi destruído e o próprio Ogami foi condenado ao Seppuku. Ogami, porém, não quis aceitar o seu destino e resolveu partir em busca de vingança, ao lado de seu pequeno filho, Daigoro. Para tanto, ele começa a rodar o Japão feudal como um mercenário e assassino de aluguel, aceitando todo e qualquer trabalho em troca de dinheiro, tudo para que ele pudesse bancar sua vingança.
O desenvolvimento desse primeiro volume não é exatamente linear. Começamos sem conhecer Itto Ogami, sem saber suas motivações, seus desejos, nada. O que temos é um guerreiro poderoso que leva consigo o filho junto a um carrinho de bebê, a cada nova missão que aceita. Cada um dos capítulos do volume apresenta uma narrativa à parte, sem continuidade direta, de forma episódica, algumas com um fim um tanto quanto abruto, quase para sinalizar que Ogami só estava a cumprir uma “obrigação” e, tendo acabado o seu serviço, não tinha mais necessidade de ali estar. A única ligação entre os capítulos é a presença de Itto e seu filho e, evidentemente, a fama que o assassino conhecido como Lobo solitário vai ganhando. Somente no último capítulo é que descobrimos as motivações de Ogami.
Com o passar dos capítulos, a personalidade do protagonista mais e mais se delineia, um mercenário sem medo, sempre a se arriscar em missões difíceis, às vezes suicidas. Seguro de si e extremamente habilidoso, o guerreiro sempre consegue sair de todas as situações de um modo fácil, ainda que possa encontrar um percalço aqui e ali. Inteligente, consegue perceber todas as nuances da situação, estando quase sempre um passo a frente do adversário. E mesmo quando surpreendido, consegue dar uma virada de uma forma muito fácil.
Apesar desse esquema do protagonista vencer tudo com relativa facilidade, Lobo solitário não é um mangá ruim por causa disso e consegue passar um ar de verossimilhança muito grande, pois existe toda uma construção e uma justificativa plausível para sua habilidade e força. Nitidamente, ele conhece várias técnicas de guerra (o conhecida Arte da Guerra, da Sun Tzu é citado, inclusive) e esse conhecimento aliado à sua habilidade o torna um exemplar guerreiro, justificando sua força.
De fato, a obra conseguiu agradar bastante e nos instigou a continuar. Ainda não dá para saber o porquê de toda a aclamação da história e do prestígio que ela ganhou com o tempo, mas é extremamente fácil se apegar a ela. Há algumas coisas, entretanto, difíceis de aceitar como elementos de narrativa válidos. O capítulo final, por exemplo, nos explica, por meio de dois quadros com grande quantidade de textos, a questão dos espiões, assassinos e executores. Se isso serve para que possamos entender melhor o poder de Ogami, por outro lado parece um artifício muito fácil para explicar ao leitor algo que poderia ter sido passado por meio de alguns capítulos a mais.
De todo modo, isso não invalida uma história que se mostrou interessante até então. Talvez, com a leitura de outros volumes, eu mude de ideia e ache que tinha que ser dessa forma mesmo e passe a considerar compreensível a utilização desses quadros, mas isso só o futuro dirá…
Edição nacional
A edição nacional veio no formato 13,7 por 20 cm, capa cartonada com orelhas e miolo em papel offset. Esteticamente a edição está muito bonita, mas dei o azar de comprar uma edição “premiada”. A encadernação – como todos os mangás da Panini – é feita à cola e nitidamente não foi colada direito. Veja abaixo a diferença entre Lobo solitário e Bestiarius quando abrimos o mangá:
Note que a edição de Lobo solitário produz uma abertura entre a lombada e as páginas e isso faz as chances de haver descolamento ficarem muito grandes. Se pegar uma edição assim, entre em contato imediatamente com a Panini para tentar a troca por uma edição em bom estado. Esse é um problema de gráfica bem claro, mas que poderia ser evitado se a editora usasse costura interna como a NewPOP faz em todos os seus mangás. Obviamente isso encareceria o produto e como ninguém liga para o mangá não ter costura, não é algo que deve mudar…
No mais, vale alguns outros pitacos sobre o mangá. Essa nova edição da Panini utilizou como capa principal as ilustrações dos artistas da Dark Horse, entre eles Frank Miller, que figura nesta primeira edição. Nas quarta-capas há uma ilustração do desenhista do mangá Goseki Kojima.
Essa escolha foi uma opção da editora para não ter que espelhar as capas (repetir a imagem dos dois lados do mangá), como fora na primeira primeira em meados dos anos 2000. Aparentemente, era uma obrigação usar as capas da Dark Horse, então a escolha de uma quarta-capa com artes do Kojima foi bastante acertada para acalmar um pouco os otakus mais fanáticos^^.
Veredicto
Para quem nunca leu Lobo solitário antes, o mangá mostrou-se bastante interessante e nos intrigou a querer ver a continuação da história e como as aventuras de Itto Ogami em busca de vingança prosseguirão. Nesse primeiro volume tivemos narrativas episódicas até demais e decerto isso cansará em algum momento. Para ser aclamado como é, facilmente imaginamos que o desenvolvimento deverá ter um salto de qualidade nos volumes posteriores e as tramas se adensarão.
Por ora, o mangá está bastante recomendado, principalmente para quem gosta de obras que envolvam batalhas um pouco mais séries, e de narrativas em que o protagonista é um daqueles sujeitos ultra-poderosos^^.
Ficha Técnica
Título: Lobo solitário
Autor: Kazuo Koike; Goseki Kojima
Editora: Panini
Acabamento: Miolo em papel offset, capa cartonada com orelhas. média de quase 300 páginas.
Número de volumes: 28
Periodicidade no Brasil: Bimestral
Preço: R$ 18,90
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BBM
Comprei o meu pela Saraiva e a edição veio mal recortada. Sequer cheguei a abrir o mangá, solicitei logo a troca.
Já possuo a coleção completa mas estou pegando essa por pensar que teria mais qualidade. A minha antiga rapidamente começou a soltar as páginas.
É decepcionante ver que essa aparenta seguir o mesmo rumo.
[…] Leia nossa resenha […]
Na banca que eu fui tambem tava com problema esse mangá. Ond acho sem problema?
Só procurando mesmo…
Ou esperando algum posicionamento mais claro da editora.
No momento, a editora diz que foram problemas de lotes e que quem comprar com defeito pode solicitar a troca com a editora…
Quero muito esse mangá, mas na banca que fui todas as edições estavam com problema de encadernação. Preciso procurar em outra banca e ver se dou mais sorte.
Cansado da Panini ter entrado nesse loop de publicar mangás com problema na encadernação, uma pena.
Ainda não recebi o meu volume de Lobo Solitário (só a partir do dia 18 🙁 – comprei na saraiva). Não iria comprar de início, mas como estava em promoção decidi por adquirir esse primeiro volume pra ver se eu gosto do obra mesmo, só pra não ficar somente no que o pessoal diz sobre ele por aí. Espero que goste da obra e que o meu não venha “premiado” também.
Fui na banca e dei de cara com um único mangá todo torto e mal cortado. Perguntei se tinha mais unidades e consegui uma edição sem defeitos XD.
Kyon, em relação a costura interna sugerida na publicação já adotada pela editora NewPop auxiliaria mais mangás com números elevados de páginas, como o Lobo Solitário que foi citado na resenha?
Esse tipo de costura é a mesma utilizada em livros?
Costura ajuda as páginas a não descolarem. A propaganda da NewPOP é que você pode abrir o mangá sem problemas e as páginas nunca vão cair, a não ser que você faça força para isso. Rs.
Se Lobo solitário tivesse esse item, provavelmente não haveria preocupação de haver descolamento.
Muito obrigado pelo esclarecimento, Kyon!
Ainda não recebi meu volume de Lobo e tbm nunca o li, apesar de conhecer sua fama. Esses problemas de encadernação da Panini já estão começando a irritar, Lobo, Slam Dunk, até alguns volumes do Vagabond com os mesmos problemas. Já tá na hora da editora dar um jeito nisso.
A narrativa é mesmo muito episódica a princípio, se não me engano só lá pra o volume 8-10 é que as coisas realmente engatam
Nossa, fiquei doido quando anunciou a republicação do Lobo Solitário, mesmo tendo a edição anterior quero fazer esta coleção de novo. Foi falado de alguns materiais inéditos não publicados na edição anterior. Mas fiquei decepcionado justamente pela encadernação com páginas coladas, tortas e com miolo solto…bem mal feita. Mas vamos reclamar e ver se a Panini toma providências. Uma obra desse calibre não pode sair dessa maneira!