Um clássico revisitado…
Se há uma característica que marcou muito a editora Conrad foi a publicação de títulos completamente fora do padrão comercial, geralmente mangás que seriam destinados a um público mais adulto, restrito, realmente bastante seleto. Eram obras que ainda hoje não agradariam a maioria da parcela do público consumidor de mangás, o que dirá dez anos atrás.
Há quem argumente que isso foi uma das causas do declínio da editora, mas é impossível saber se existe mesmo essa relação. O que importa, entretanto, é que a editora trouxe histórias diferenciadas, algumas de grande valor, outras nem tanto.
Mizuno Junko no Cinderalla-chan (ou simplesmente Cinderalla) foi um deles. Obra de apenas um volume escrita e desenhada por Junko Mizuno, Cinderalla revisitava o clássico conto de fadas, colocando-o num ambiente com zumbis O_o. Uma obra inteiramente colorida, com um estilo de desenho que causa estranheza e desconforto, Cinderalla mostrou-se como algo único e completamente distante de tudo o que vimos até então ser chamado de mangá.
HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO
Em Cinderalla, acompanhamos a personagem de mesmo nome e sua vida sofrida. Trabalhando na loja de espetinhos de seu pai, a garota perde o rumo assim que seu progenitor falece. Ao descobrir que todas as noites o pai dela retorna do mundo dos mortos, a garota volta a ter esperança, porém logo sua vida se torna novamente sofrida quando seu pai resolve se casar novamente. A garota terá que conviver com sua nova madrasta e com as filhas dela, ao mesmo tempo em que encontrará o príncipe da sua vida, também um zumbi.
Toda a história de Cinderalla está ligada ao clássico conto infantil, mas todas muito transformadas para um ambiente diferente. O príncipe não é o filho de um rei e sim um cantor famoso no mundo dos mortos. A fada madrinha é uma iniciante que não consegue fazer magias de modo correto. Os ratinhos aqui, na verdade, é apenas uma ratinha que acaba se tornando uma ratazana de todo o tamanho O_o. Até a clássica perda do sapatinho de cristal há no mangá, mas como é uma história de zumbis, Cinderalla perderá uma parte do corpo.
O mangá ao mesmo tempo em que é bastante simples (Afinal trabalha com a estrutura de um conto de fadas tradicional) é também muito diferente, muito inusual. Os desenhos parecem feitos para emular um conto de fadas às avessas, com personagens nada fofinhos, em um estilo mais dark, porém sem entrar no âmbito do terror/horror.
O estranhamento é constante e todas as formas que você imaginar. Volta e meia algum personagem aparece com os seios à mostra, porém nada sensualizado, visto que o aspecto dos personagens são caricatos e nada lembram uma pessoa ( ou um personagem agradável). Além disso, a protagonista está sempre apta a ficar triste, chegando até a encher a cara, quando seus planos acabam frustrados.
Esse estranhamento faz parte da experiência e acrescenta muito na história. Fosse desenhado de forma mais comum e sem os traços que causam certa repulsa, a narrativa não teria impacto e seria vista como uma bobeira sem sentido de uma autora sem criatividade.
Cinderalla, portanto, tem seu mérito, mas obviamente não é para todo mundo. Na verdade, não é para quase ninguém. É difícil gostar desse mangá e, na verdade, mesmo se você ler e gostar dificilmente quererá reler. A obra é feita para isso, para causar um impacto, não necessariamente para divertir.
Edição nacional
A edição nacional veio no formato 14 x 21 cm, miolo em papel offset e capa com orelhas. São cerca de 150 páginas, todas coloridas. A obra ainda possui uma entrevista com a autora. À época de lançamento, o mangá custava R$ 29,50, segundo o site Guia dos quadrinhos.
As capas dessa edição foram espelhadas (a editora usou a mesma imagem na capa e na quarta-capa).
Curiosidades
Aos interessados, a autora criou outros mangás revisitando o universo dos contos de fadas, porém eles não chegaram a ser publicados no Brasil.
Outra curiosidade é que pouco tempo depois do lançamento do mangá no Brasil, Junko Mizuno foi tema de uma exposição na cidade de São Paulo.
Ficha Técnica
Título: Cinderalla
Autor: Junko Mizuno
Editora: Conrad
Acabamento: Capa com orelha. Miolo em Papel offset.
Número de volumes: 1
Preço: R$ 29,50
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Poxa, então eu devo ser umas das poucas pessoas a gostar deste trem.
Isso mesmo pessoal, um bom post esse, gostei demais….O único problema nisso tudo é a vontade….Ai que vontade de ter.