Uma doença e as amenidades da vida…
Se você leu nossa resenha de Morte – A Garota do Funeral Marítimo (clique aqui) deve ter percebido o quanto a gente gostou daquele primeiro volume da série. Foi um livro de suspense daqueles bem intensos e feitos para enganar os olhos do leitor e ficarmos apreensivos com o desenrolar da história, mesmo já sabendo o que deveria acontecer.
Em Morte – A Donzela Sacrificial de Gratia, o segundo volume da série, o clima muda completamente e os ares de mistérios – embora ainda permaneçam aqui e ali – dão lugar a uma história mais amena, que discute um pouco mais sobre a natureza das pessoas com a doença misteriosa e apresenta a vida cotidiana em um lugar em que algumas pessoas viveriam seus últimos momentos de vida.
Para quem chegou aqui e ainda não sabe o background da série, a gente explica. A história se passa no nosso mundo, em alguma época dos anos 2000, pois há computadores, celulares conectados à Internet e tudo mais. No entanto, existe uma doença misteriosa chamada Morte, que atinge apenas jovens e que os impele a cometer suicídio antes de se tornarem adultos. Como pouco se sabe sobre a doença, há muito preconceito e muitas dúvidas, de modo que ainda há ares de mistério em relação a essa enfermidade.
Esse segundo livro se passa em Gratia, uma espécie de hotel em que jovens diagnosticados com Morte são enviados por algumas famílias que não conseguem conviver com a possibilidade de ver o futuro suicídio de seus filhos. A história acontece um ano depois dos fatos de Doceu, apresentados no primeiro livro, e o personagem principal da vez é Dante, um aspirante a escritor que decide trabalhar em Gratia buscando material para seu novo romance. Pelas coisas que ele tinha ouvido falar, Gratia era um lugar detestável, parecido com os antigos manicômios, e seria ótimo para ele conseguir alguma inspiração. Entretanto o local não era como ele imaginava. Gratia, na verdade, é um lugar bem livre e pacífico e as crianças que ali estão vivem bem felizes.
A Donzela Sacrifical de Gratia possui dois grandes temas, ou antes duas grandes histórias, a discussão sobre a doença Morte e a narrativa da “Donzela” que dá título ao livro. Acerca do primeiro ponto, devemos lembrar que em A Garota do Funeral Marítimo, a doença estava presente, havia um personagem com ela, mas a enfermidade era apenas um acessório, um instrumento daquele mundo, e a grande trama se concentrava em Doceu (um orfanato que formava “substitutos” de pessoas que seriam vítimas de Morte) e os crimes ali praticados. Agora nesse novo volume, a discussão é bem maior.

Existe uma razão bem clara sobre isso. No primeiro livro, as pessoas já sabiam sobre a doença, conheciam-a até bem, mas nesse segundo o protagonista ainda estava se inteirando sobre ela e tendo o primeiro contato com os doentes. A gente vê Dante preocupado, se afeiçoando e desejando a felicidade a eles, quem sabe até uma cura que parecia inexistir. A discussão toda do livro gira em torno do desconhecimento das pessoas sobre a enfermidade, o modo de tratar os enfermos, dentre diversas outras coisas. São apresentadas até mesmo hipóteses para o surgimento da doença (talvez ela sempre tenha existido, mas só recentemente se reconheceu como uma) e características em comum dos portadores dela, embora nada muito científico.
Tudo isso acontece em meio a um clima de bastante descontração e até alegria, com Dante divertindo-se com Amiya (uma das acometidas pela doença), conversando sobre ficção com Zila (também acometida pela doença) e tendo muito trabalho em Gratia. Obviamente também há uma outra coisa que acontece em meio a isso…
A segunda grande história, como o subtítulo do livro sugere, tem a ver com a morte de um personagem. Se você conhece as capas japonesas (acima), de pronto você descobre quem é a personagem que morrerá na história. Serão apresentadas apenas duas personagens femininas acometidas pela doença e uma delas está na capa do terceiro livro, então fica claro quem será o “sacrifício”. Existe uma outra personagem feminina na trama, mas não daria para imaginar que fosse ela.
Basicamente, a história vai se desenvolvendo em um clima ameno e calmo, com algumas tramas envolvendo este ou aquele personagem, mas nada que quebrasse o ar gentil de Gratia. Entretanto, quem leu a sinopse do livro já estava esperando por algo, por um momento em que alguém iria morrer. E esse momento acontece, quando uma das garotas se joga do prédio vestida como o chamado “Fantasma de Gratia”. Esse é um ponto importante, pois a garota que se matou tinha um estilo próprio de se vestir e, de repente, no momento de sua morte ela estava vestida de preto, como em uma lenda que existia no lugar. Há todo um mistério do porquê ela teria feito isso. Seria um suicídio advindo da doença ou teria uma outra causa por trás. Ou pior, alguém a assassinou? E se a assassinou essa pessoa fez isso por qual razão? No livro há até mesmo uma confissão do crime (e isso não é um spoiler).

De maneira geral, o modo como as revelações foram feitas e a sequência de acontecimentos, foi bem aquém do primeiro livro. Toda aquela coisa de que “nem tudo é o que parece” permaneceu na obra, mas não houve aquele clima de surpresa que os fatos apresentados mereciam. Faltou um desenvolvimento maior da questão do Fantasma de Gratia que nos instigasse a pensar sobre aquilo, além disso as revelações foram expositivas demais, com os personagens parando e falando sobre o assunto. Não foi lá muito bom e não deu aquele sentimento catártico.
Apesar disso, a história te prende, um tanto pela presença de personagens conhecidos (é bom rever Alan, Manon, Doudou e Amiya), outro tanto pelo clima ameno daquele ambiente, com o carisma dos personagens levando a obra nas costas. O protagonista Dante, por exemplo, tem todo um background interessante, de uma adolescência não muito fortuita e que de certo modo o liga com Gratia.

Aliás, isso é uma coisa que Keika Hanada consegue fazer muito bem e que vem desde o volume 1, manter a história amarradinha, com laços entre os acontecimentos e os personagens. De fato, faltou realmente um desenvolvimento melhor no meio da história, mas isso não impediu que a obra fosse prazerosa.
Para terminar, vale dizer que, ao contrário do primeiro livro, Morte – A Donzela Sacrificial de Gratia termina com um belo de um cliffhanger, daqueles que, por mais que pudesse ser esperado, te deixa com um coração na mão, para saber o que vai acontecer. Além disso, o final do volume guardou uma aparição de um personagem esquecido que pode ter uma importante participação no volume 3.
No todo, foi uma boa leitura. Não foi aquela grande experiência do primeiro livro, mas valeu as horas gastas e conseguiu se sair como um bom entretenimento. Agora aguardamos pela publicação do último livro da série.
- Ficha Técnica
Título: Morte
Autor: Keika Hanada
Ilustrador: Yone Kazuki
Tradutor: Tiemi Ogawa
Editora: NewPOP
Dimensões: 10,6 x 14,8 cm
Miolo: Papel polén soft
Acabamento: Capa cartonada com orelhas e pôster encartado
Classificação indicativa: 16 anos
Número de volumes no Japão: 3 (completo)
Número de volumes já lançados: 2 (ainda em publicação)
Preço: R$ 26,90
Onde comprar: Amazon
[…] em agosto pela editora NewPOP. Já fizemos resenha do primeiro volume (clique aqui), do segundo (clique aqui) e agora falaremos do terceiro e último, que tem como subtítulo “O Anjo Que Chora Entre […]
Comecei a ler o 1 volume ontem, pretendo pegar esse segundo volume, porém mais pra frente, tô com muita coisa pra ler RE Zero, Toradora, fora os mangás e quadrinhos….