O Esporte e o Herói
Embora existam muitas semelhanças, mangás de esporte são bem diferentes entre si, existindo diversos tipos de obras, cada uma buscando contar alguma coisa e cada uma com uma abordagem diferente. Haikyu!!, por exemplo, um dos mangás em publicação pela editora JBC, apresenta uma conduta mais descritiva, de apresentação do esporte (no caso o vôlei), mostrando e explicando as regras e jogadas ao decorrer da obra.
A abordagem de Ping Pong, mangá de autoria de Taiyo Matsumoto e que foi publicado recentemente também pela editora JBC, é o total oposto. O leitor entra na obra já tendo que saber as regras do tênis de mesa, os movimentos, como se pega na bola e tudo mais. Até existem umas explicações aqui e ali, mas são bem superficiais, que fazem com que pessoas não familiarizadas com o esporte não entendam direito o que certo detalhe tem a ver com outro.
Entretanto, isso não chega a ser um demérito da obra, primeiro porque não é necessário saber as regras para conseguir compreender e gostar do mangá, e segundo porque o objetivo por trás do título é bem diferente, é muito mais do que apenas o esporte em si.
Ping Pong acompanha dois estudantes do ensino médio, apelidados de Peco e Smile, que são amigos de infância e jogam tênis de mesa. Peco é um rapaz bem animado, feliz, e que vê no tênis de mesa o seu futuro, sendo um excelente esportista e desejando ser o melhor do mundo no que faz. Smile, por sua vez, é um rapaz frio, taciturno, que praticamente não sorri, e que começa a jogar tênis de mesa por influência do amigo, a quem considera um herói.
A história vai mostrar a evolução dos dois ao longo de um certo período de tempo, apresentando suas similitudes e diferenças enquanto jogadores e enquanto pessoas, destacando o modo como lidam com o sucesso e o fracasso, especialmente um deles.
Ping Pong é um mangá de esporte que, assim como outros, se concentra bastante na ideia de torneios juvenis inter-escolares, mostrando competições, adversário mais fortes (ou potencialmente mais fortes), e ambição da vitória, com intensos treinamentos, mesmo alguns deles sendo contra a vontade do treinado^^.
Apesar desse lado, a verdadeira face do mangá é outra, é mostrar os sentimentos escondidos e os desejos que estão por trás de cada personagem em relação ao esporte. Há alguém que só quer jogar mais para se divertir, há alguém que quer desafios, alguém que quer ser um astro, dentre outras coisas.
Embora nada disso pareça diferente dos demais spokons, Ping Pong consegue nos mostrar um algo mais para o além da competição, subvertendo um pouco a ideia de que o importante é a superação e a vitória. Isso é tão verdade que embora o mangá guarde páginas e mais páginas dedicadas aos jogos, eles não chegam a ser tão importantes, tanto no plano dos personagens (um deles aparentemente perde um ou mais jogos de propósito), quanto no plano da narrativa, em que diversos duelos são resolvidos sem aquela emoção contagiante de outras obras (ou do esporte de verdade).
Dito de outro modo, é comum que os mangás de esporte emulem bastante o sentimento dos esportes de verdade, nos fazendo torcer por um personagem, por uma equipe, etc. Em Ping Pong isso não existe (pelo menos não tanto), pois o que importa são os próprios personagens em si, suas evoluções enquanto pessoas. Peco, por exemplo, é um excelente esportista, hábil, mas que pouco fazia para conseguir melhorar suas técnicas e a gente acabará por ver isso dele em um momento, para buscar o seu sonho. Se superar e vencer não chega a ser particularmente importante, já que sua grande marca está mais relacionada a Smile, ao modo como Smile enxerga Peco, como um herói.
O mangá não é uma obra brilhante, não é uma revolução ou algo assim, mas é um título muito carismático, muito divertido, muito eficiente e que consegue passar uma sensação muito boa, de que as pessoas são reais, de que os personagens são reais, e de que o esporte é muito bom. O Blog BBM recomenda bastante o mangá.
A EDIÇÃO BRASILEIRA
O mangá Ping Pong foi lançado originalmente no Japão em 5 volumes, entre 1996 e 1997. Posteriormente foi relançado em três volumes em 2012 e, mais uma vez, relançado em dois tomos, no ano de 2014. A edição brasileira lançada pela JBC segue essa versão de 2014, chamada de Ping Pong FULL GAME.
Por compilar cinco volumes em dois, a edição brasileira apresenta 520 páginas por volume, sendo dois calhamaços que doem as mãos depois de muito carregar. Ele veio no formato 15,4 x 22,5 cm, sendo meio centímetro maior que os mangás da Pipoca & Nanquim e um centímetro e meio menor que Chi’s Sweet Home.

Ping Pong possui capa cartão com sobrecapa nos dois volumes. A sobrecapa utilizada é semelhante a usada em outros mangás no Brasil, no mesmo tipo de material, e possui um verniz localizado no logo, tanto na parte da frente, quanto em sua lateral (onde é a lombada). Já a capa em si é aquela capa cartão comum. De minha parte gostei muito de tudo.
Acerca da lombada, como eu disse na postagem sobre Nausicaä (Leia aqui), eu não sou especialista no assunto, mas aparentemente ela é apenas colada (sem costura), pois não dá para ver aquelas dobrinhas. Apesar disso, a encadernação é muito boa, permitindo folhear, abrir e ler o mangá sem qualquer inconveniente.

Acerca das imagens, as capas usadas no Brasil foram diferentes da versão japonesa, sendo criadas por Kleverson Mariano e Paula Cruz, utilizando as artes de Taiyo Matsumoto. Particularmente não achei as capas bonitas (não sei explicar o porquê de não ter gostado, apenas não gostei), mas as japonesas também não são, então tudo bem.






Internamente, cada volume possui um pin-up (um pôster encartado, daqueles em que não é possível – ou não recomendado – tirar do mangá) e o papel utilizado no miolo é o pólen bold 90g. Para quem não conhece, é o mesmo papel utilizado na reimpressão de Akira, em Nausicaä do Vale do Vento, em Dead Dead Demon’s Dededede Destruction e nos mangás da Pipoca & Nanquim.


É um papel muito bom, grosso, com aquele branco-creme que é ótimo para leitura e que permite apreciar bem mangá. Particularmente, eu achei uma escolha muito acertada em Ping Pong. Esse papel já é ótimo em qualquer mangá, mas em Ping Pong ele consegue deixar tudo muito mais “limpo”, talvez por conta da arte do autor, que usa muitos espaços em branco, sem muitos cenários, sem muitos tons escuros.
No todo, eu acho que a edição física da JBC ficou muito bem feita, com um ótimo papel e um ótimo acabamento no geral. Podia ser um pouquinho melhor se tivesse lombada colada e costurada, mas isso não afeta tanto. Então, juntamente com a história, o mangá Ping Pong está mais do que recomendado pelo Blog BBM.
O preço é bastante impeditivo, mas ele está sempre ganhando promoções na Amazon, então é só ficar de olho…
Ficha Técnica
Título Original:ピンポン
Título: Ping Pong
Autor: Taiyo Matsumoto
Tradutor: Hiro Tamaki
Editora: JBC
Número de volumes no Japão: 5 (completo)
Número de volumes no Brasil: 2 (completo)
Dimensões: 15,4 x 22,5 cm
Miolo: Papel pólen bold 90g
Acabamento: Capa cartão com sobrecapa; pin-up colorido
Classificação indicativa: não disponível
Preço: R$ 89,90
Onde comprar: Amazon / Comix
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A resenha tá excelente, muito bem escrita e fluída.
Dito isso, não tenho qualquer interesse nessa obra pq não consigo apreciar o traço desse autor…a história deve ser boa, mas realmente não é pra mim.