Avaliando a edição física de um mangá da editora…
Recentemente, fiz duas resenhas de lançamentos da editora Alto Astral, Não mexa com minha filha! e O segredo de Natsuki. Ambas as resenhas tiveram como base a edição digital disponível no site Social Comics. Comprei, entretanto, uma versão física do primeiro mangá e resolvi escrever essa postagem para falar mais precisamente a vocês sobre o produto.
Este texto será, portanto, concentrado em Não mexa com minha filha! (ainda que citemos O segredo de Natsuki). O mangá possui 160 páginas, miolo em papel jornal e preço de R$ 16,90. Só por essas informações muita gente torce o nariz e acha um absurdo pagar esse valor por um mangá de papel jornal.
Sendo bem sincero, eu não vejo nenhum problema em pagar R$16,90 por um mangá com essas características. Se você tem um dinheiro sobrando e o mangá em si ou o gênero da história lhe agrada e você se interessou realmente por tal ou qual obra, não há razão nenhuma de deixar de comprar só porque ele é publicado em papel jornal e custa R$ 16,90. Eu não acho que as pessoas devam renegar um produto que desejam, mas que estejam com essas características só porque, por exemplo, a Panini consegue produzir um mangá em papel offset e com orelhas e vender a esse mesmo valor. Tendo dinheiro, eu jamais deixaria de comprar o meu mangá favorito ou um mangá que desejo muito só porque foi publicado em papel jornal.
A questão, no entanto, é que para um mangá em papel jornal valer o investimento ele precisa ser bem cuidado. Zetman, por exemplo, custa R$ 17,50 e é impecável. Páginas coloridas, um bom papel jornal, boa encadernação, adaptação e revisão também muito boa, etc. O mesmo não podemos dizer de Não mexa com minha filha!. O título da editora Alto Astral possui falhas estruturais muito grandes e que fazem a gente sentir que jogou o dinheiro no lixo, pois o mais básico na aquisição do mangá, a leitura, é prejudicada pela edição física oferecida pela editora.
Sim, porque, por mais que as pessoas comprem mangás para colocar na estante, a sua função é a leitura e se o mangá nos dificulta isso, mesmo se ele fosse de graça seria muito caro.
Sendo assim, listamos abaixo três tópicos para vocês verem o real problema da coisa, além de um extra que as pessoas notaram mesmo sem comprar.
-PÁGINAS FALTANDO
A primeira coisa que você deveria perceber ao abrir o mangá Não mexa com minha filha! é que tem páginas faltando. Na versão digital é a mesma coisa, mas eu não havia me atentado quando li da primeira vez. Entretanto, procurando versões do mangá pela Internet me deparei com a realidade, a editora Alto Astral retirou várias páginas iniciais do mangá em que teriam o índice e, também, HISTÓRIA. Isso mesmo que você leu, a editora cortou uma página inicial que continha o início da história.
Desde sempre, é muito comum que as editoras cortem alguns extras dos mangás, como a JBC fazia com alguns mangás no passado, mas retirar página de história como a Alto Astral fez é o cúmulo da falta de bom senso e profissionalismo. Abaixo você verá a primeira página original do mangá (colorida) e a primeira página do mangá da editora Alto Astral (em preto e branco, e que seria a página 4 O_o).
E não, isso não se limita ao mangá Não mexa com minha filha!, a obra O segredo de Natsuki também teve suas 4 páginas coloridas DE HISTÓRIA retiradas. Neste link você poderá ver, em japonês, as páginas iniciais do mangá coloridas. A edição brasileira começa apenas na primeira página em preto e branco que você ver. Ou seja, em O segredo de Natsuki o problema é pior do que em Não mexa com minha filha!, pois em vez de uma são quatro páginas de história cortadas.
Por que a editora fez isso? O motivo mais óbvio que nos vem à mente é economia de custos. Como as páginas não enchiam um “caderno” (conjunto de 8 ou 16 páginas que compõem os livros, revistas e mangás na hora da impressão) a editora preferiu retirá-las em vez de ter um gasto extra com páginas em branco.
Só que isso não faz o menor sentido, pois em ambos os mangás a editora colocou os extras originais O_o. Em Não mexa com minha filha! há uma página em que o autor fala sobre a construção do mangá e em O segredo de Natsuki há quatro páginas de quadrinhos extras em que o próprio autor aparece. As páginas coloridas DE HISTÓRIA poderiam ser facilmente incluídas, bastando retirar esses extras. Como não foram só restam duas alternativas: a editora quis economizar ou a editora não recebeu os arquivos das primeiras páginas coloridas. Qual delas você acha mais possível?
-BALÕES COMIDOS PELA ENCADERNAÇÃO
Não bastasse terem cortado páginas, logo na primeira página efetivamente colocada, temos um balão que foi comido pela encadernação. A gente até consegue adivinhar o que está escrito, mas nota-se claramente o mal cuidado da edição.

Eu tento me convencer que foi um problema de gráfica, mas a comparação com a versão digital não me deixa pensar assim. Notem mais acima (na imagem do item Páginas faltando) que o mangá possui uma margem muito pequena à direita. É nítido que ela foi diagramada sem levar em consideração a “comida” da lombada.
É claro que isso seria um problema facilmente relegado se a edição estivesse muito boa, mas a soma de todos os problemas não nos deixa ver isso como um mero detalhe.
-ENCADERNAÇÃO
O pior problema de Não mexa com minha filha! é que a encadernação não ficou boa. É difícil folhear o título e para conseguir ler às vezes você precisa fazer um pouco de força para que as páginas abram por inteiro, correndo o risco de elas soltarem se você fizer força demais.
Nesse processo as páginas ficam “amassadas” e fazem um “crec”, típico de mangás antigos da Conrad, como Battle Royale ou alguns volumes de Paradise Kiss. Numa referência atual, ele está aparecendo aquela edição de Kill la Kill, da JBC, lançada ano passado que também era difícil de folhear. Provavelmente a edição possui um excesso de cola que causa esse tipo de problema.
Não sei se a visualização das imagens acima farão vocês entenderem, mas tais imagens (que são das mesmas páginas) demonstram a dificuldade de folhear do mangá. Enquanto um mangá “normal” as páginas abririam sem esforço, com um só toque, o da Astral Comics apresenta esses “amassados” da imagem da direita e você precisa abrir mais ainda para conseguir ver a página inteira por inteiro, como na imagem da esquerda.
Não é algo que deveria acontecer de jeito nenhum em qualquer mangá.
-EXTRA: MEIO-TANKO?
Fora esses problemas, quem viu o mangá em banca de revista chegou a achar que era meio-tanko de tão fino que o mangá é. Porém, a verdade é que o volume está completo, tirando as páginas iniciais cortadas evidentemente. A questão é que o papel jornal utilizado parece ser de baixíssima gramatura. Abaixo você confere duas comparações. Uma com Yo-kai Watch, meio-tanko recente da Panini, também em papel jornal, e outra com Puella Magi Kazumi Magica – Malícia Inocente, da NewPOP, publicado em papel offset.
Notem como Kazumi Magica é mais grosso que Não mexa com minha filha!. O detalhe aqui é que o mangá da NewPOP possui cerca de 20 páginas a menos que o da Alto Astral. Obviamente o tipo de papel utilizado faz toda a diferença.
Comparando com Yo-kai Watch, Não mexa com minha filha! é ligeiramente mais grosso, mas isso porque possui cerca de 60 páginas a mais que o meio-tanko da Panini. Se tivessem o mesmo número de páginas decerto o mangá da Panini seria mais grandinho, pois o papel jornal da editora italiana é melhor (ou aparenta ser melhor) do que o da Alto Astral…
Entretanto é preciso ficar claro que ser fino não atrapalha a leitura, logo não é necessariamente um demérito do mangá. Os verdadeiros deméritos foram os citados acima.
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Se os vários problemas físicos não fossem suficientes, ainda tem aqueles problemas textuais que falamos na resenha do mangá, diagramação ruim, erros de revisão, onomatopeias não traduzidas, entre diversos outros erros recorrentes. Por isso tudo repito o que disse no início do texto: esse mangá de graça já é muito caro.
Em resumo: o problema não é o mangá ser publicado em papel jornal e custar R$ 16,90. O problema é o mangá possuir defeitos que dificultam a finalidade de todo e qualquer mangá: a leitura. Dito de outro modo, o valor do produto não importa muito. Ele poderia custar R$ 9,90 ou R$ 19,90 que daria no mesmo. Se estivesse bem feito, sem esses erros e fosse um título de muito interesse, valeria a pena pagar. Como não está, não vale.
O único benefício claro da edição brasileira é não vir com as censuras que a edição japonesa possui, mas isso acaba sendo algo mínimo frente a tudo o que foi apontado. De todo modo, alguns dos deméritos apontados poderiam ser resolvidos facilmente se a editora quisesse.
Se vou dar uma nova chance a um mangá da Alto Astral é difícil saber. Dependerá muito do que a editora lançar e do quanto aquilo me atrair, mas no momento eu diria que esses problemas me afastam muito dos mangás da empresa…
BBM
[…] deles, a editora publicou o mangá de volume único Laços proibidos Os títulos da editora foram bastante criticados pelo péssimo acabamento, preço alto e outros detalhes, como a retirada de páginas, chegando ao […]
[…] as que vinham nos tankoubons, até hoje algumas editoras simplesmente lançam em preto e branco ou simplesmente as excluem do livro. O próprio kanzenban de Slam Dunk virá com número de páginas coloridas […]
[…] o meu modo de pensar, se o mangá não tiver problemas de encadernação (tipo aqueles dos mangás da Alto Astral), estiver bem-feitinho e tudo mais, e for um título que eu desejo muito, o preço é o de menos e […]
Da Editora Alto Astral,eu só tenho um volume de Anomal,e me arrependi de ter comprado,mesmo sendo um relançamento em bancas custando R$9,90,ele tinha o erro de falta de margem também,você quase descola as páginas para conseguir ler o texto todo,não se deram nem ao trabalho de numerar as páginas,esses dois detalhes me são preciosos em qualquer manga ou livro.A impressão que dá é que eles apenas entram na hype de que muitos mangas estão sendo lançados no Brasil,e querem lucrar também,falta profissionalismo e dedicação de algumas dessas editoras,sem isso,nunca conseguirão conquistar um público fiel,qualquer empresário sabe que o cliente precisa ser agradado,senão o sucesso,ou a tentativa dele,vai por água abaixo.
É uma boa análise, acredito que a “qualidade” do material facilitou o veredito. Mas no geral penso totalmente diferente. Espero que essa editora melhore pra ajudar o mercado a crescer.
Ótima análise, com critérios relevantes que são ignorados pela maioria dos consumidores de mangás.
*momento paranoia* As editoras “mainstream” deram uma graninha para a Alto Astral fazer um mangá de “qualidade” absurda, assim seus erros e defeitos ficam parecendo detalhes bobos. Note como aparece vários dos pontos que são criticados na JBC, Panini e NewPOP, mas que conseguem ser elevados a novas proporções, só faltou ser transparente. A moral que elas querem chegar é: Podia ser pior! Muito pior!
(Só para ser certeza, isto é uma piada… Não é sério… Ou será?! 😱)
seja qual for o chá q tiver tomando! pare! sério! xD
Mara, é você?
De novo… Quantas vezes na minha vida serei comparado “à” Mara.
Como ninguém sabe a sua identidade secreta, é bem capaz de você ser essa tal de Mara aí, que estão falando. :v
Ei, e você sabe qual é a identidade do Kyon???
HUAHUAHUA! Quem me dera… Eu não sei nem a sua, quanto mais a dele.
Dizem que Kyon é Deus
Psiu, ei, Kyon, é Kazumi Magica! XDDD
De novo esse erro? Juro que me policiei para não repetir…
Como é possível que a editora japonesa deixe cortar as primeiras páginas do mangá? Será que realmente decidiram isso no contrato? Eu pelo menos não consigo imaginar a editora ou o próprio autor aceitando isso, mesmo que os caras estejam muito desesperados pra vender algo O.o
Concordo. Eu não sei como isto aconteceu, mas é muito estranho, realmente.
Até onde já li, ouvi e me contaram, a maioria absoluta dos mangás só tem a capa e aquela folha de direitos e tal enviada para os japoneses para aprovação. A editora japonesa pode não saber que isso está ocorrendo. 🙂
Acho que só quando é um autor “chatinho” que quer pegar o mangá na mão
Ah bom, eu achava que todas as editoras tinham que mandar alguns volumes de todos os seus mangás pro Japão pra verificarem.
Parece a Editora Abril antigamente quando tentava enfiar 4 histórias de 22 páginas em um gibi de 82 páginas
Apesar de não “sentir” a falta dessas paginas não historia a principio, esse corte foi ridiculo! até entendo que a crise ta braba, tanto q os mangas da JBC estão mais caros e pararam de vir em offset, mas essa foi a gota d’agua. Detesto dizer isso, mas: Adeus Alto Astral, foi bom enquanto durou. 🙁