Resenha: o mangá francês “Tengu-do”

tenguO jardim dos caminhos que voltam ao mesmo lugar…

Quem acompanha o mercado de quadrinhos de modo geral talvez já tenha ouvido falar da Les Humanoïdes Associés, uma editora francesa que volta e meia possui alguma obra licenciada no Brasil. Aos que não conhecem, a Les Humanoïdes é uma empresa francesa famosa por sua prolífera publicação de quadrinhos. Essa editora tem como um de seus fundadores o famoso quadrinista Jean Giroud, conhecido como Moebius.

O que pouca gente sabe é que embora seja conhecida por seus quadrinhos tradicionais – definidos de forma muito genérica de “europeus” por alguns consumidores  – , a Les Humanoïdes também teve uma produção própria de mangás. Em meados dos anos 2000, a empresa começou a publicar mangás criados por artistas locais e chegou até mesmo a ter suas próprias revistas compilatórias, impressas e digitais.

No mundo de coisas que a editora publicou, há obras bem ruins, beirando o amadorismo, mas há alguns títulos que se destacam e conseguem ser muito melhores do que vários mangás japoneses famosinhos. Desde 2014 temos presenciado a chegada de vários desses mangás franceses da Les Humanoïdes ao Brasil pela editora Alto Astral. Muitos deles podem ser facilmente colocados como pífios (como Pen Dragon), mas pelo menos um é dotado de grande qualidade: Tengu-do.


A obra, os autores


Tengu-do é uma colaboração de dois artistas europeus. Andrea Rossetto, desenhista italiano que tinha contrato com a Les Humanoïdes e que atualmente é docente na “Scuola Internazionale de Comics”, e Alex Nikolavitch, roteirista, tradutor e especialista em comics americanos. A parceria entre os dois surgiu muito por acaso. Nikolavitch nunca tinha sequer pensado em escrever um mangá, entretanto foi convidado por um amigo a criar um mangá chamado de O Esquadrão das Sombras, inédito no Brasil. Posteriormente lhe foi apresentado a Andrea Rossetto e surgiu a ideia de um mangá sobre samurais. Nikolavitch sempre teve fascínio com histórias desse tipo, sendo influenciado por obras como Os 7 samurais e Lobo solitário.

Tengu-do é uma narrativa que versa exatamente sobre samurais, misturando um pouco de elementos históricos, fantasiosos e também de ficção científica se formos bastante abrangentes. Na história, o protagonista deseja “seguir o caminho da espada” e, para isso, aprende o básico com o seu mestre, considerado louco por muitos, visto que ele “não segue a ordem das coisas”. Após o aparecimento de um monstro que acabou por matar seu mestre, o jovem parte em uma jornada buscando encontrar esse monstro (o Tengu) e vingar a morte do homem que tudo lhe ensinou.


História e desenvolvimento


Se lutas épicas é o que você deseja, Tengu-do é um mangá que não irá te decepcionar. O protagonista sai em viagem, conhece pessoas e, ao menos nos dois primeiros volumes da obra, há várias passagens empolgantes em que acompanhamos as lutas do protagonista sempre com a certeza de que ele sairá vencedor. Não porque ele é um desses protagonistas ultra-fortes e que vencem tudo e todos só por serem protagonistas, mas sim porque ele vai aprendendo no meio do caminho e ficando mais forte, mesmo quando suas vitórias lhe custam caro. E elas custam. Vencer não significa necessariamente facilidade e muito menos sair ileso de uma situação.

Entretanto, por mais que a busca do “caminho da espada” seja o ponto de partida para o mangá francês, a verdade é que a obra é mais do que isso. Batalhas acontecem sempre, a busca pelo Tengu motiva a história, mas o desenvolvimento do mangá não se foca apenas na ação. Ele tem um enfoque bem maior em fantasia e em ficção científica. Mais especificamente: viagens no tempo.

A história torna-se grandiosa quando isso vem à tona. Enquanto o início da obra parece ser aquele mangá de lutinha convencional, uma imitação barata dos mangás japoneses, o desenvolvimento, por outro lado, mostra que ela tem algo mais a acrescentar.

A inserção de viagem no tempo foi um tanto quanto abrupta, mas o que parecia ser uma falha de um roteirista inexperiente, mostrou-se um precioso achado, uma joia sem igual no mundo dos mangás. A verdade é que Tengu-do faz apenas o convencional do convencional em questão de viagem no tempo, mas o faz de uma forma muito bem executada, amarrando o enredo e os acontecimentos com maestria, sem sinais de furos de roteiro.

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O protagonista + o viajante mascarado, uma das pessoas com quem ele encontrou em suas andanças…

A grande sacada do mangá Tengu-do é fazer tudo estar envolto na questão temporal, inclusive os personagens: o protagonista, o viajante mascarado, o mestre, o tengu, etc, todos eles estão diretamente relacionados com as viagens no tempo. Após uma releitura você percebe que tudo o que acontece desde a primeira página do mangá, até a última tem envolvimento disso.

O final, ainda que seja bastante esperado, foi paradoxalmente uma verdadeira surpresa, intrigante, como se fossem os jardins dos caminhos que se bifurcam. No caso, O jardim dos caminhos que voltam ao mesmo lugar^^. A história é um eterno retorno, uma narrativa que não tem fim, em que o começo do mangá é o seu final, e o final é o seu começo.


Veredicto


O Veredicto é meio óbvio. A ligação que existe entre o protagonista, o viajante mascarado, o mestre, o tengu e outros personagens é brilhantemente executada, satisfazendo todo leitor ou pelo menos boa parte dos leitores. Tengu-do é uma narrativa muito interessante para os amantes de histórias com viagens no tempo, paradoxos temporais, etc. Uma narrativa para fazer o leitor se divertir e pensar nas grandes reviravoltas que acontecem ao longo dos três volumes…


Ficha Técnica


Título: Tengu-do

Autor: Alex  Nikolavitch; Andrea Rossetto

Editora:Alto Astral

Acabamento: Papel offset

Número de volumes: 3

Preço: R$ 14,90

Onde comprar: Comix

Versão Digital em: Social Comics

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3 Comments

  • Eu tenho Tengu-do. Duas edições inclusive. E quase comprei Pen Dragon também…xD (talvez tenha que repensar sobre este último…rs)
    Ainda não li, mas com esta resenha (e já agradeço aqui de antemão, @Kyon), penso que realmente foi um bom investimento. Resta saber agora quando terei tempo para lê-lo, assim como a pessoa qua ganhará o mangá futuramente…=)

  • A existência de “manfras” se deve ao fato da França ser o mercado de mangá fora do Japão.
    Boa parte dos franceses com menos de 50 anos viram algum anime na vida deles.
    (Candy , Goldorak, Albator os mais antigos….)
    Achei interessante o nome manga francês

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