Não seria mais fácil começar com um mega sucesso da Shonen Jump em vez de um título desconhecido que quase ninguém ouviu falar?
Por mais que Pipoca & Nanquim, Darkside Books e outras editoras menores tragam mangás de autores famosos (Jiro Taniguchi, Junji Ito, Osamu Tezuka), os títulos trazidos por essas empresas – regra geral – são obras pouco conhecidas do grande público consumidor.
Daí que já vimos várias vezes algumas pessoas perguntarem o porquê de essas editoras não trazerem mangás populares, de grandes editoras japonesas, que possuem animes da temporada, etc. Buscando sanar essa dúvida, viemos responder essa questão hoje para os leitores do blog que tenham dúvida semelhante.
- Por que uma editora novata não traz obras populares?
A resposta é até bem simples, elas não trazem mangás populares porque não conseguem trazer, apenas isso. Explicamos detalhadamente a seguir:
Quando uma empresa brasileira vai negociar um quadrinho, livro ou qualquer outro tipo de publicação de algum outro país do ocidente (Estados Unidos, França, Itália, etc), as chances de essa empresa conseguir a licença se não tiver mais ninguém interessado é bem alta. Tudo se trata de uma questão de oferecer uma boa proposta, dar garantia de pagamento de royalties, dentre outras coisas.
Basicamente, a editora procura o responsável pela obra que quer publicar (o próprio autor, o agente, a editora original) se apresenta e faz uma proposta para a publicação daquele título. Se ele estiver livre e não houver nenhuma outra empresa negociando no momento a mesma obra, a editora facilmente pode obter o contrato e conseguir publicar o quadrinho que deseja. Isso independe de essa empresa ser uma gigante que atua há muitos anos no mercado como a Panini ou se é uma novata como a Pipoca & Nanquim. Se você se apresenta ao detentor dos direitos, faz uma proposta adequada e bem estruturada, as chances de conseguir o licenciamento de uma obra são bastante altas.
Claro que existem empresas que não olham para editoras novatas e só trabalham com as grandes, mas no “mundo normal”, a negociação de um título no ocidente não chega a ser muito complicada, desde que a editora apresente segurança para os detentores dos direitos.
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Agora se uma editora novata decide lançar um mangá… Aí, meu amigo, a história é outra. Muito provavelmente, a editora nem sequer vai conseguir obter uma resposta da empresa japonesa, principalmente se ela é uma grande editora nipônica, como a Shueisha ou a Kodansha. No Japão, há todo um esquema de lealdade e confiança em que você precisa ter um relacionamento com os japoneses para conseguir licenciar as obras.
Os ex-editores da Mangaline (uma extinta editora espanhola) comentaram em um vídeo no Youtube (clique aqui para ver) que o primeiro requisito (o requisito mínimo) para uma editora conseguir licenciar o seu primeiro mangá é essa editora já ter lançado um mangá antes^^.
Aqui no Brasil, a Pipoca & Nanquim também chegou a comentar algo parecido (clique aqui para ver o vídeo), falando que as editoras que eles contactaram disseram que só conversariam depois de ela lançar um mangá, enquanto outras a ignoravam sumariamente.
Recentemente, Cassius Medauar – em um podcast do site Jbox – igualmente comentou algo parecido. Segundo ele, trazer um mangá para o Brasil não é tão dispendioso, mas se uma editora é nova, provavelmente os japoneses nem irão dar bolar, pois é necessário ter um histórico para apresentar.
O primeiro mangá da Pipoca & Nanquim (Guardiões do Louvre), por exemplo, só foi possível porque a licença estava junto a uma editora francesa, a Futurópolis, que edita uma coleção de quadrinhos do Museu do Louvre, de Paris. Foi esse mangá que abriu as portas da empresa para outras editoras japonesas. Ainda assim, a PN ainda não tem contato com as principais empresas nipônicas, até o momento.
A NewPOP tem uma história semelhante. Segundo contou Junior Fonseca, dono da editora, em uma entrevista para o site JBOX, o primeiro mangá da empresa, 1945, foi conseguido junto a um agente europeu, e depois a editora licenciou outras obras por meio da Tokyopop. Foi preciso muito trabalho e esforço para que a editora conseguisse montar um portfólio suficiente para conseguir ter acesso às grandes editoras japonesa.
Na mesma entrevista para o JBOX, Fonseca deixou claro a dificuldade de trabalhar com Kodansha e a Shueisha, que se sentiam mais seguras de manter o foco com empresas que conheciam a mais tempo:
“Pra gente em específico ainda é a questão da idade da editora. Elas preferem trabalhar com seus parceiros atuais e fora isso, o que aconteceu com a Conrad atrapalhou muito o processo. Mas será uma questão de tempo, podem acreditar. Essas editoras já estão em contato conosco e conhecem nosso trabalho. Mas não é um processo dos mais rápidos até as coisas se concretizarem”.
Depois dessa entrevista demorou mais uns 3 ou 4 anos para a NewPOP conseguir licenciar obras da Kodansha, tamanha a dificuldade que é para novatas conseguir ter acesso às empresas maiores.
Esses exemplos da Pipoca & Nanquim e da NewPOP – assim como as outras falas comentadas no texto – mostram bem como funciona o mercado nipônico. Não basta você querer publicar, não basta você ter dinheiro, se você não tem uma relação com os japoneses e algo para mostrar a eles, você não irá conseguir ou terá muitas dificuldades. Por isso que é bem difícil que uma empresa consiga lançar um mangá popular logo de cara. Se já é difícil conseguir lançar o primeiro mangá, mais difícil ainda será conseguir lançar um mangá popular da Shonen Jump, da Shonen Magazine, com anime da temporada, etc.
- Outras questões complementares
1) Há que se recordar, porém, que as editoras também possuem uma linha que pretendem seguir. A Veneta, por exemplo, conseguiu licenciar Ayako, de Osamu Tezuka, como seu primeiro mangá (que é feito junto à empresa da família do autor), e certamente era um título que ela queria de verdade publicar, pois faz parte da linha editorial da empresa. Então mesmo que a Veneta lance muitos mangás, não devemos esperar um hit da temporada de animes vindo por ela no futuro.
2) Embora a Devir seja uma editora nova no mundo dos mangás, ela é bem antiga, além de ser uma multinacional, publicando mangás em Portugal desde 2012. É por isso que ela já conseguiu licenciar um mangá da Shueisha (Astra Lost In Space), mesmo publicando mangás no Brasil há menos de 3 anos.
3) A Pipoca & Nanquim também tem um mangá que foi publicado pela Shueisha no Japão (Rohan no Louvre), mas assim como no caso de Guardiões do Louvre, a licença foi obtida junto aos franceses.
Esta foi uma postagem da nossa coluna BBM Responde, uma série voltada para responder perguntas que encontramos nas redes sociais, em comentários do blog, etc. A ideia é responder perguntas bem simples, mas que mesmo assim muitos leitores e colecionadores tenham dúvidas.
Legal que nessa brincadeira de mandar a editora publicar algum mangá antes eles direcionam o povo das Editoras a caçarem outros títulos e mesmo editoras diferentes das grandonas japonesas.
De certo modo, estão se auto-ajudando.
Bela matéria, como de costume!
Panini compete com ela mesma no mercado de HQs e mangas 🙂
Conseguir a licença já é difícil aí depois que conseguem é mais enrolado ainda o processo com os japoneses, coisa como formato, páginas coloridas, cor especial ou extras. A JBC por exemplo parece ter sofrido demais pra conseguir Nausicaa espero que pelo menos venda bem por aqui, porque pelo que o Del Greco falou parece até que eles foram lá chorar do lado de fora da editora
Fico imaginando a frustração de ter esse trampo todo e depois a obra não vender bem. Deve ser foda.
Bastante esclarecedora a explicação. Eu já imaginava que era complexo e burocrático e o processo mas não imaginei que era tanto.
Espero que isso melhore com o passar dos anos e que a gente vá pouco a pouco tendo acesso a mais mangás. Quem sabe de pra sonhar até com o paraíso das reimpressões para completar coleções.
Me botaram tanto medo com relação a isso que só estou comprando mangás pequenos ou de volume único.
Obrigado pela matéria
Atenciosamente
Marcos Mariano
Mangás nunca tiveram uma boa política de reimpressão, mas nunca vi acabar tão rápido os estoques (da Panini) como nesse ano, Wotakoi foi um mangá que acabava de um dia pro outro no Amazon
Ainda dá pra confiar na NewPop e ter um certo controle com a JBC, mas as coleções da Panini estão assim mesmo, ou compra assim que sai ou reza pra ter estoque ;-;
Fica quase impossível conseguir as coleções completas nesse ritmo =\
Mesmo quando um título grande é oferecido para editoras menores, o poder financeiro da Panini com certeza supera todas as outras e é por isso que ela quase sempre fica com as obras do momento…
A Panini pega as obras e a gente já começa a chorar porque se não comprar logo pode acabar ficando sem algum volume =\
Isso só mostra o nível da Panini, já q a msm consegue trazer até obras q já anunciaram animes… Uma pena, pode ser uma grande empresa, mas quesito qualidade falta muito! Obg por esse poste bem interessante.
Sim, seria legal se outras conseguirem competir, ia ser maravilhoso pra todos nós. Tô esperando uma entrega deles há um “tempinho’ eu diria ahajahajajaj