Retrospectiva 2019 – E os Shoujos como estão?

Um ano que começa com a publicação de Rosa de Versalhes e termina com um anúncio de Banana Fish não pode ser um ano ruim. Ou pode? Na nossa postagem de retrospectiva de hoje, a gente vem falar sobre mangás shoujos e dizer que, apesar não ainda não termos tudo o que queremos, 2019 nos propiciou boas surpresas (ou será que não?).

Edição Brasileira de Clear Card Arc x Edição Argentina

Caso não se lembrem, 2018 terminou de uma forma bem desoladora para os fãs de shoujos, com a constatação de que aquele ano tinha sido o pior da história da demografia no Brasil em número de volumes publicados e em número de títulos novos, desde que se começou a publicar mangás neste país.

Na ocasião, apenas 16 volumes foram publicados, enquanto apenas uma série nova começou a sair, um volume único, na verdade. Ao fim de 2018, o ano de 2019 só não parecia ser tão preocupante, pois teríamos garantido a publicação Rosa de Versalhes e Furi Fura, para acalentar o coração com pequenas coisas, mas ainda assim a tendência era novamente bater o recorde de menos volumes lançados. Naquele momento, não havia nenhum shoujo em publicação no Brasil, de modo que os mangás da Riyoko Ikeda e da Io Sakisaka seriam os únicos. Entretanto, o decorrer do ano acabou dando-nos mais coisas, ainda que não exatamente novidades.

Antes de mais nada vamos só relembrar o que é shoujo para os que chegaram até este texto por engano e/ou ainda não sabem exatamente do que estamos falando. Mangás shoujos nada mais são do que obras feitas para o público feminino juvenil japonês. Ou seja, são quadrinhos pensados, produzidos e acabados tendo em mente pré-adolescentes ou adolescentes japonesas como o público alvo, as pessoas que idealmente iriam ler. Isso não quer dizer que outras pessoas não possam ler e gostar, afinal obras de ficção costumam ser universais, a questão é que a definição de shoujo é essa que falamos.

De forma geral, não há como você saber se um mangá é shoujo sem descobrir em que revista ele foi publicado no Japão. Se um mangá saiu em uma revista shoujo, ele é shoujo. Se não saiu em uma revista shoujo, não é shoujo. É importante você ter em mente isso, pois ainda hoje há muitas pessoas que quando ouvem falar “shoujo” pensam imediatamente em “romance” (ou o contrário, pensam em romance e associam com shoujo), existindo até mesmo influenciadores que perpetuam essa desinformação. Falar em “shoujo” é falar apenas no público alvo original e não em um gênero temático específico. Há shoujo de ação, shoujo de aventura, shoujo de ficção científica, shoujo de terror, e, claro, shoujo de romance. Há todo tipo de gênero que pode ser explorado nos mangás shoujos.

“Rosa de Versalhes” até tem romance, mas é mais um drama histórico do que tudo.

Agora que você já sabe disso, vamos adentrar mais nessa retrospectiva, falando da JBC. Durante o ano de 2019, a editora publicou quatro títulos shoujos, dos quais três eram lançamentos e um era um relançamento de uma obra publicada pela empresa muitos anos atrás. A JBC publicou Rosa de Versalhes, Fairy Tail Blue Mistral (o spin-off shoujo de Fairy Tail), Cardcaptor Sakura Clear Card Arc e Fruits Basket Edição de Colecionador. Além disso, a empresa ainda anunciou o relançamento de Sailor Moon, em sua versão Eternal Edition, mas esse título acabou ficando para 2020.

Ao todo, foram 14 volumes lançados pela editora, divididos por quatro séries diferentes (5 de Rosa de Versalhes concluindo a obra, 4 de Fairy Tail Blue Mistral também concluindo a obra, 3 de Cardcaptor Sakura Clear Card Arc e 2 de Fruits basket Edição de Colecionador).

Gráfico 1. Porcentagem de mangás shoujos na JBC em 2019. Fonte dos dados: Blog BBM

Um ponto importante que vale destacar é que Clear Card e Fruits Basket foram os primeiros mangás shoujos a serem lançados com sobrecapa no Brasil. Até então, esse item (usado em todos os mangás no Japão) tinha sido exclusivo de obras shonens e seinens por aqui. A escolha deles não podia ser mais acertada, afinal Clear Card era a continuação de uma obra bastante querida do público, Sakura, e Fruits Basket era o relançamento de outra obra querida (e que estava alta por causa do novo anime).

Por fim, mas não menos importante, Clear Card ainda se tornou o primeiro shoujo a ter capítulos publicados no Brasil em formato digital em simultâneo com o Japão, em parceria com o grupo CLAMP.

Já por parte da Panini, dois shoujos fizeram parte do catálogo da editora em 2019, Furi Fura – Amores e DesenganosVampire Knight Memories, obra derivada de Vampire Knight. Ao todo, a empresa apresentou 8 volumes divididos por duas séries (5 de Furi Fura e 3 de Memories), um número bastante baixo para a editora, ainda mais se compararmos com o total de publicações, 268.

Gráfico 2. Porcentagem de mangás shoujos e joseis na Panini em 2019. Fonte dos dados: Blog BBM

No todo, foram lançados no Brasil 22 volumes de mangás shoujos divididos pelas seis séries das duas editoras. O número ainda é ínfimo (só é maior que 2001 e 2003), mas representa um ganho em relação a 2018, uma conquista pequena e que deve ser celebrada apesar dos pesares, pois mesmo percentualmente, houve um ganho. Em 2018, o número representava 4,1% do total de mangás, enquanto em 2019, esse percentual subiu modestamente para 5,4%.

Vale relembrar que o ano com mais volumes de mangás shoujo foi 2009 com 78. Já o ano que percentualmente teve mais volumes foi 2008, quando os 67 números lançados equivaleram a 26% dos 257 volumes de mangás publicados.

Gráfico 5. Número de volumes de mangás shoujos publicados em comparação com o número total de mangás de cada ano. Fonte dos dados: blog BBM e Guia dos Quadrinhos.

O grande ponto negativo de 2019 é que apesar dos títulos, alguns de impacto, a gente continuou a ter pouca variedade e poucos volumes publicados. Ninguém menospreza a força e a importância de Rosa de Versalhes ou mesmo da franquia Cardcaptor Sakura, mas se olharmos de modo mais crítico ainda parece muito pouco para um mercado de mangás, mostrando-se quase sem opções de escolha.

Vejam, por exemplo, que Vampire Knight Memories, Cardcaptor Sakura Clear Card Arc e Fairy Tail Blue Mistral são obras derivadas de uma outra anteriormente lançada no Brasil, ou seja são destinados a um público bem mais específico, não necessariamente ao público geral. Dito de outro modo, é difícil que uma pessoa que não esteja familiarizada com as séries principais consiga pegar essas obras (ou ao menos, se sinta tentado a pegar essas obras). Mesmo Blue Mistral que pode ser lido como algo à parte (ainda que tenha lá os personagens da obra original) não desperta interesse de quem já não é fã da obra de Hiro Mashima.

Se três das séries shoujos são obras derivadas, Fruits Basket é um relançamento. Tem o seu mérito de ser uma republicação em um formato mais bem acabado, coisa inédita até então com shoujos, mas não é uma novidade (no sentido de ser título novo, nunca lançado no Brasil), ainda que venha na esteira da nova adaptação em anime. Assim, os únicos títulos novos que poderiam abranger uma maior gama de leitores em 2019 foram Rosa de Versalhes e Furi Fura, os dois títulos que tinham sido previamente anunciados em 2018.

Para quem gosta de shoujos, foi muito bom rever Tohru em Fruits Basket, foi ótimo continuar as aventuras de Sakura, foi legal conhecer o universo de Fairy Tail por meio de Blue Mistral, foi intenso ler Rosa de Versalhes completo pela primeira vez, e foi sensacional conhecer a história de Yuna e Akari em Furi Fura. Ainda assim, a gente sente falta de mais novidades, obras de outras autoras, obras de mais revistas japonesas. A gente quer mais mangás da Nakayoshi, da Bessatsu Friends, da Dessert, e mesmo da Betsuma. Vamos ficar querendo. Rs

Para 2020, a única novidade garantida é o Banana Fish, aquele clássico shoujo de ação e que voltou à tona devido à adaptação em anime; Sailor Moon (um relançamento) também virá; e No Café Kichijoji a gente não sabe quando a NewPOP irá publicá-lo. A gente espera realmente que 2020 reserve mais novidades para esse nicho de mercado. Enquanto isso vamos acompanhar e continuar a ler o que temos por aqui.


MANGÁS PARA O PÚBLICO FEMININO


A gente disse que shoujos são mangás voltados para o público feminino juvenil japonês, mas existem outras obras que também são destinadas ao público feminino nipônico, e que foram publicados no Brasil em 2019, os joseis (destinados ao público feminino adulto) e os BL’s (também destinados ao público feminino adulto, mas tematicamente específico, mostrando uma relação entre dois rapazes).

Em 2019, tivemos três mangás BL’s publicados no Brasil, Joy, Little Knight e Beldade Presa na Gaiola, todos de apenas um volume e todos publicados pela editora NewPOP. Além disso, tivemos dois mangás joseis pela Panini, Game – Jogo Proibido e Wotakoi – O amor é difícil para otakus. É coisa rara aparecer dois joseis em um ano, mas estão aí. Chama mais a atenção o fato de que Game teve três volumes publicados e Wotakoi teve seis (cinco efetivamente já lançados, o sexto estando presente no checklist de dezembro), totalizando 9 tomos.

Ou seja, tivemos mais volumes de mangás joseis pela Panini do que shoujos, como visto no gráfico 2. Completamente surreal, não é mesmo? Se shoujo é algo que está relegado hoje em dia no Brasil, josei sempre foi com muito pouca obra saindo, daí a surrealidade da coisa.


PARA 2020 EM DIANTE



Retrospectiva é uma série de postagens que fazemos todos os anos para relembrar o que de melhor e pior aconteceu no mercado brasileiro de mangás, além de outras notícias relacionadas ou não ao nosso país. Para ver todas as postagens deste ano, clique aqui.

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