[TRADUÇÃO] Entrevista com Inio Asano para a IVREA

Empresa argentina fez uma entrevista com o autor

A editora argentina Ivrea começou uma série de entrevistas em seu blog (Ivreality) chamada Walking With Gigants – Entrevistas a Grandes Creadores, na qual a empresa conversará com diversos autores de mangás. A entrevista inicial foi com Inio Asano, postada nesta terça-feira, 15 de junho de 2021.

Resolvi traduzir essa entrevista e disponibilizá-la aqui para vocês. A postagem original (em espanhol) você encontra clicando neste link, no blog da Ivrea. Vejam a seguir a entrevista:


Walking With Gigants – Entrevistas a Grandes Creadores


INIO ASANO EN EXCLUSIVA


POR JAVIER HEREDIA

INTÉRPRETE: Pablo Tschopp
INVESTIGACIÓN Y REDACCIÓN: Agustín Gomez Sanz
TRADUÇÃO PARA O PORTUGUÊS: BLOGBBM.COM


Iniciamos com essa entrevista ao mítico criador de Boa Noite Punpun uma nova sessão no Ivreality dedicada a conhecer mais a fundo os mangakás mais populares.

São entrevistas que temos conduzido nos últimos anos em nossas viagens ao Japão para manter fluído o relacionamento com as editoras japonesas ou para fechar um contrato.

Nesse caso, o encontro com Inio Asano foi marcado para as 16h em um café no peculiar bairro de Shimokitazawa, em Tóquio. Para ser intérprete, acompanhou-me Pablo Tschopp, um dos nossos tradutores de mangás. Tschopp deixou Buenos Aires e se estabeleceu no Japão há alguns anos. Foi ele – já morando em terras japonesas – o encarregado de traduzir a edição da Ivrea de Boa Noite Punpun. Ele era a pessoa certa para me acompanhar. E por falar em combinações ideais, as coincidências da vida fizeram com que naquele mesmo dia, a poucas quadras de distância, eu tivesse almoçado com meu querido e admirado “amigo” Takehiko Inoue e sua esposa, Miyuki. O mítico criador de Slam Dunk e Vagabond tem seu estúdio no mesmo bairro, que é uma espécie de paraíso boêmio onde gravitam muitos artistas.

O ponto de encontro com Asano foi o Café Trois Chambres, que fica a poucos quarteirões da estação e é relativamente bem visível… mas de alguma forma conseguimos passar por ele e continuamos andando vários quarteirões até percebermos que tínhamos ido para o além (Os endereços em Tóquio não se correlacionam com números, então tudo requer um mapa com referências).

Quando finalmente fomos capazes de nos localizar, nos encontramos com o nosso contato principal do departamento de direitos internacionais da Shogakukan, uma das pessoas com quem costumamos negociar títulos para a Argentina. Foi ela quem nos indicou uma pequena escada que conduzia à sala principal escondida do café. Ao entrar, nos enchemos com o cheiro de fumaça de cigarro (no Japão você ainda pode, ou melhor, podia fumar dentro de ambientes fechados) misturado com o aroma intenso do café artesanal que estava sendo moído naquele momento.

Lá dentro, nosso entrevistado nos recebeu: um Asano loiro abatido, lânguido e desbotado, que além da reverência obrigatória, deu um aperto de mão afetuoso. Então nós quatro, mais o editor encarregado de Asano da Big Comics, nos acomodamos em uma mesa de canto que, embora mal iluminada, era bastante confortável, e pedimos um café gelado (que veio mais amargo do que a lembrança de sentar ao lado de estranhos em um café, o que se tornaria impossível por longos meses logo depois).

Pra quem nunca ouviu falar do Inio Asano (o que é péssimo de sua parte, vá comprar os mangas dele agora mesmo), ele nasceu em setembro de 1980 na prefeitura de Ibaraki, e é um mangaká que conseguiu se destacar nesse meio não por ser necessariamente o mais popular, mas por ser um dos mais interpretados no que diz respeito ao desenvolvimento do caráter e ao realismo literário. Depois de alcançar um enorme sucesso com Solanin que acabou se tornando um filme live action em 2010,  ganhou renome internacional com Boa Noite Punpun e hoje é considerado por muitos como a voz de sua geração na indústria.

Isso é o que ele nos disse durante aquela conversa:

IVREA: Ao contrário de muitos outros autores, você é muito aberto sobre suas opiniões e experiências pessoais. Você também não parece ter problemas para se mostrar publicamente ou dar entrevistas pessoalmente, como está fazendo conosco agora. O que você acha que o diferencia de tantos outros autores que sempre são tão receosos de expor sua vida privada?

INIO ASANO: Acho que existem dois tipos de mangakás. Há quem queira criar o mangá que quiser em privado e nada mais; e há aqueles que consideram seus trabalhos uma ferramenta de comunicação. Eu sou um dos que faz parte do segundo grupo, daqueles que usam o mangá como meio de dizer o que querem. Quando você cria uma história, é inevitável usar coisas próximas a você, sua própria vida, como base. Acho que é aí que reside a diferença.

Em entrevistas anteriores você mencionou que começou a desenhar muito jovem. Que hobbies e interesses você tinha naquela época?

Desde criança eu era muito bom em desenhar, mas a verdade é que só pensei seriamente em me tornar um mangaká pouco antes de minha estreia na revista. Eu também poderia ter me voltado para a arte ou para a música. Minha única certeza era que queria criar coisas. Se o pontapé inicial tivesse sido outro, talvez eu tivesse seguido um caminho completamente diferente na minha vida. No final, foi o mangá que se tornou o meu trabalho.

Houve alguma obra em particular que influenciou o seu trabalho inicialmente?

Quando criança eu tinha uma preferência especial por mangás e, quase na mesma medida, por música. São tantas obras que acho que não poderia dizer uma em particular. O que importou para mim foi que, depois de fazer minha estreia, tentei principalmente não ser influenciado por outras pessoas.

Além de mangás, você assistiu outras coisas como animes ou tokusatsus?

No meu caso, foram praticamente apenas mangas. Quase não assistia anime. E mesmo dentro dos quadrinhos, eu preferia mais aqueles com um tema mais adulto do que aqueles das revistas shonen típicas como a Jump.

Antes de sua estreia, como era sua vida familiar? Você tem muitos irmãos ou morava com outros parentes?

Tenho uma irmã mais velha, mas não sou muito íntimo dela. Eu era um daqueles seres que passava o dia todo sozinho.

Você sente que aquele tempo de solidão foi algo que lhe deu um espaço para criar seus mangás?

Não, não creio. Eu simplesmente não me sentia sozinho por estar sozinho. Isso de querer ficar sozinho para poder criar foi algo que veio muito depois. Nem havia uma razão especial para eu estar sozinho. Simplesmente eu não estava muito interessado em conversar com outras pessoas. Hoje mudei muito, sou daqueles que não param de falar com as pessoas. Agora gosto de conviver com os outros. Quando eu era jovem, só conversava com pessoas que tinham os mesmos interesses que eu, mas agora é o contrário. Procuro lidar especificamente com pessoas que são diferentes de mim, pois assim posso aprender coisas novas.

Em uma entrevista anterior você mencionou que tinha uma condição física…

Ah, a coisa do peito?

Sim. Eu me senti bastante identificado porque também tive um problema de saúde na minha infância e que me afetou muito. Você acha que isso influenciou muito sua personalidade naquela época e como adulto? Desculpe se é muito pessoal…

Hummm, isso me influenciou, sim. Quando eu era criança, tinha tendência a me sentir inferior aos outros. Por exemplo, quando eu estava fazendo algo com meus amigos, embora todos nós fizéssemos o mesmo, não me sentia tão bem nisso. Acabei achando que mesmo fazendo a mesma coisa, sempre sairia pior para mim; não adiantava fazer o mesmo que os outros. Isso também me levou a pensar que se eu não encontrasse algo que fosse melhor que os outros e não o desenvolvesse, nunca seria capaz de ganhar confiança em mim mesmo. Acontece que eu era bom em desenhar, então me apoiei nisso por esse motivo.

Quando você sente que se fisgou ao mangá? O que o motivou a dar o salto para se tornar um profissional?

Hmm, eu só consegui mostrar meus mangas para alguém, quando eu tinha 16 ou 17 anos. Comecei com um de piadas e recebi comentários muito bons. Daquele momento em diante, senti que o que estava fazendo era bom o suficiente para que outros vissem, então, pouco depois, decidi apresentar meu trabalho em uma editora na esperança de que talvez isso pudesse se tornar minha profissão.

O que te motivou, e como você encontrou coragem para levar seu trabalho para uma editora sendo tão jovem?

Eu era um estudante do ensino médio, e se tenho que dizer o porquê, bem … é que eu não queria estudar. Se possível, queria fazer outra coisa em troca de não ter que continuar meus estudos.

Algo como “se eu puder ganhar a vida com isso”… certo?

Sim, exato. Se eu fosse um aluno muito bom, faria sentido seguir uma carreira; mas se realmente não me dava bem, pensei que talvez não valesse tanto à pena. Não tinha a intenção de me tornar o “número um”, mas tinha aspirações de estar entre os melhores da minha categoria, então queria me esforçar em uma disciplina na qual sabia que era bom.

No final, você foi escolhido em uma idade muito jovem para fazer quatro páginas para Big Comic Spirits, da Shogakukan. Mas depois disso eles fizeram você desenhar apenas one-shots por vários anos e nunca encomendaram uma série regular. Como isso afetou você?

O primeiro mangá que publicaram era de humor, e é um gênero que você gosta muito ou não gosta de jeito nenhum. Isso te faz rir, ou não te faz rir. Embora eu tenha me divertido muito, se o editor responsável não gostou, tchau. No final, nunca concordamos. Eu ganhei minha primeira série quando desisti do mangá de humor e decidi desenhar algo com uma história. É só que… demorei vários anos para me encorajar a mudar de gênero.

Seu estilo de desenho é muito característico nos mangás de comédia, mas também se transforma para caber muito bem em títulos mais sérios, o que cria um contraste interessante no seu trabalho como um todo.

Sim. O que desenho geralmente é extremo. Se eu desenho humor, eles são piadas muito radicais; mas quando são trabalhos com história, é como se eu acabasse querendo desenhar algo um pouco mais voltado para uma minoria. Algo que só eles entenderiam, em vez de histórias normais. Achei que como o mangá típico poderia ser desenhado por outros autores que gostassem disso, não era necessário que eu também entrasse nessa área só por fazer. Acho que é por isso que você acaba distinguindo um contraste tão marcante.

É claro que os leitores acabaram gostando muito. Agora, indo para temas mais específicos de seus trabalhos, um tema recorrente neles é a frustração de se tornar um adulto, e é algo que é claramente mostrado nos personagens de What a Wonderful World. No entanto, por ser uma coleção de contos, você não teve muito espaço para desenvolver esses personagens. Isso foi uma motivação para mais tarde criar um trabalho mais longo como Solanin?

Queria apresentar os protagonistas do meu mangá não como personagens, mas como pessoas comuns, até queria evitar ter que dar um nome a eles. Nunca pensei em mostrá-los como “personagens de um mangá” e fiquei muito satisfeito com isso. No entanto, quando você tem que fazer uma série ao longo de vários capítulos, é sim ou sim, você tem que começar a nomeá-los e trabalhar para criar uma personalidade fácil de entender para eles. Foi algo que comecei a incorporar a partir dessa necessidade.

Você diria que pessoalmente está mais interessado em relatar eventos e situações do que desenvolver personagens?

Sim, é assim mesmo. Os protagonistas dos meus mangás são sempre pessoas normais, não precisam de mim para atribuir-lhes personalidades especiais. A mesma coisa acontece com o argumento da história, são coisas que qualquer um poderia viver. Eu queria desenhar mais sobre eventos e situações que todos podem vivenciar do que sobre os próprios personagens.

Certamente é um processo criativo muito particular. Os mangás típicos são centrados nos personagens e, a partir daí, os eventos são introduzidos.

Sim, bom. Dizer que existe uma cidade e nela existem pessoas comuns a quem acontecem coisas normais e do dia a dia: ao contrário dos outros, para mim essa foi a novidade. Na minha adolescência, passei muito tempo sozinho, sempre dentro de casa, e para mim aquelas histórias comuns eram vistas como algo transcendental. Portanto, coisas que podem ser óbvias e sem importância para os outros foram particularmente valiosas para mim. Da mesma forma que me pareceram tão relevantes, acabei captando-as assim em meus trabalhos.

Você considera que não se concentrar tanto no desenvolvimento dos personagens dá a você mais liberdade para a criação da história?

As duas coisas são importantes. Se você me perguntar agora, acho que – na verdade – isso me permitiu caracterizar meus personagens com mais naturalidade; nesse sentido, em vez de me dar “liberdade”, acho que apenas tornou as coisas mais fáceis para mim. Acho que as duas coisas [desenvolvimento de personagem e criação de histórias] são bons em si mesmos.

Em uma entrevista anterior você descreveu como uma espécie de “traição” ter deixado os leitores com uma sensação agradável ao final de Solanin. Porque você acha isso?

Por quê? Bem, hum… se eu tivesse que responder isso, eu nem saberia o que dizer. Para mim, normalmente, manga não é escrever coisas felizes. Sim, a maioria das obras é assim, mas também acho que são necessários mangás que não sejam, e parece-me que hoje em dia esses mangás (que apresentam histórias tristes) são mais raros. Não que haja uma “razão”. Se por exemplo fosse o contrário, e a maioria fossem histórias tristes, histórias onde alguém sempre morre, certamente eu estaria fazendo histórias com finais felizes.

É importante destacar o fato de você não seguir a norma?

Sim, claro. Acho que o que eu procurava era que houvesse um equilíbrio.

Na mesma linha, Solanin acabou se tornando muito popular e até foi adaptado para um filme, mas você disse que não queria mais fazer histórias “alegres”. Foi difícil convencer seu editor a abandonar essa fórmula de sucesso?

Não acho que seja para convencer ou não. Nem sempre os editores pedem para repetir a mesma coisa só porque um trabalho foi anteriormente bem-sucedido. Meu editor me reconheceu como um mangaká e seu desejo era obviamente que eu continuasse desenhando por muito tempo, então ele sempre foi muito compreensivo com todas as ideias que eu propus. Claro, se um deles fosse claramente enfadonho, ele o rejeitaria, mas se visse alguma possibilidade, ele me dava o OK. No caso de Solanin e Punpun, elas acabaram sendo dois mangas essencialmente opostos; mas eles compartilham que em sua raiz está o desejo de se desviar da norma, e que foram desenhados pensando em atingir um nicho específico de pessoas. Acho que meu editor entendeu esses aspectos.

A música homônima do filme “Solanin” adaptou a letra que havia sido escrita no mangá. Em todas as suas obras, a música sempre parece ter um papel importante; e você até escreveu letras para outras bandas como Dempagumi.inc… É possível que para você a música seja outra forma de se expressar criativamente, ou é apenas um hobby?

Não deixa de ser um hobby, sim; mas se formos à origem, desenhar um mangá e escrever uma música não são tão diferentes. Por exemplo, quando você escreve uma música, você tem uma introdução, versos… e isso não é muito diferente da estrutura de um enredo em um mangá. O processo é exatamente igual ao de como desenvolvo um quadrinho. Nesse sentido, tanto um mangá quanto uma música têm um processo idêntico, não os considero coisas separadas. A diferença é que nas músicas você tem outra liberdade criativa, você pode escrever outros tipos de coisas. No caso do Denpagumi, mesmo que eu tenha escrito, essas músicas não são minhas, pertencem ao grupo; por isso é muito mais fácil separar. Mangá não é algo que desenho para outra pessoa, então fazer algo diferente é sempre muito divertido.

Vamos falar sobre Punpun. Até agora, é o seu trabalho mais extenso. Você gostou da experiência de desenvolver a mesma história ao longo de quase sete anos?

Durante todo esse tempo, minha forma de pensar foi mudando. Minha personalidade evoluiu desde o momento em que comecei a desenhar até terminar, então foi um pouco difícil conectar os pontos no final para torná-lo coerente.

Você já sabia desde o início que iria demorar tanto?

A princípio pensei que conseguiria terminar na metade desse tempo, mas surgiram cada vez mais elementos que eu não conseguia parar de desenhar. Eram aspectos que eu não podia deixar de lado; por isso, principalmente na segunda metade de Punpun, recusei qualquer outro trabalho para poder fechá-lo como merecia.

Será que uma das razões pelas quais ele se estendeu tanto é que os personagens cresceram mais do que você esperava, e não havia outra escolha a não ser completar suas histórias?

Sim, acho que foi isso. O desenvolvimento interno de Punpun acabou sendo muito mais complexo do que eu imaginava inicialmente e eu senti que se não tivesse tempo para desenhá-lo, não seria capaz transmitir como eu queria. Acho que é por isso que o número de volumes foi tão grande.

No primeiro capítulo de “Punpun” há um diálogo sobre um triângulo de estrelas. Foi uma cena já planejada, como uma espécie de profecia sobre o triângulo amoroso de Punpun, Aiko e Sachi?

Eu tinha decidido desde o início. Coloquei isso no primeiro capítulo como um símbolo daquele triângulo entre os personagens para me forçar a nunca esquecer o fio geral da história. Se não o fizesse, mais tarde me tentaria a mudá-lo de alguma forma. Esse foi o motivo.

E as estrelas no triângulo têm um significado específico que está relacionado aos personagens, certo?

Pode parecer rebuscado, mas uma das estrelas do triângulo do verão, Altair, também é chamada de “Kengyuu” (o Criador de Vacas). Essa imagem de vacas e chifres… é por isso que Punpun cria chifres em uma parte (risos). Outra das estrelas (Vega) é chamada de “Ori Hime” (a Princesa que Tece). Em Punpun surge o tema do festival Tanabata (quando as estrelas se encontram no céu), e Ori Hime é alguém que faz roupas, que tece, e é por isso que Aiko, quando adulta, trabalha em uma fábrica de jeans. É algo assim.

Você sabe se muitos leitores conseguiram identificar essa referência?

Eu ficaria muito surpreso (risos). Depois, há Sachi. A terceira estrela é Deneb, da constelação do Cisne. Como na história infantil, onde um patinho feio vira um lindo cisne no final; Sachi, que era feia, passa por cirurgias estéticas e está linda. Assim, mais ou menos pela força, é como se define o triângulo do verão em relação aos três protagonistas.

A verdade é que nem eu havia percebido como as referências dos protagonistas se conectavam.

Que nada! Além do mais, o normal é justamente isso! (risos)

O conceito de usar desenhos diferentes para obscurecer a identidade de Punpun era muito interessante. Tornou-se uma forma de poder ver o seu estado emocional sem ter de o representar com expressões faciais (que também sabe retratar muito bem). Como você teve essa ideia?

Embora eu ache que é incomum representar um protagonista de uma forma tão simples, as expressões figurativas são usadas nos mangás há muito tempo; por exemplo, representar humanos como animais. Nesse sentido (o efeito Punpun) é relativamente normal para um mangá. Quanto à forma de realizar a ideia em si, isso já é mais pessoal para mim, embora não ache tão fundamental. Acho que é preciso muita determinação para ser capaz de sustentá-lo de forma consistente por sete anos.

Você acha que esse recurso o ajudou no decorrer da série ou o condicionou?

Sim, quando comecei a desenhá-lo, ele acabou sendo mais eficaz do que eu pensava. Tinha muita lógica. Havia coisas que eu só conseguia desenhar porque Punpun era assim. No mangá, as entranhas de Punpun são mostradas o tempo todo, e se ele tivesse feito isso com um rosto humano normal, teria sido muita informação. Nesse sentido acho que acabou dando um bom equilíbrio para toda a série.

Quando você se refere a coisas que só poderia desenhar porque Punpun era feito daquela forma, você acha que se Punpun tivesse um rosto humano teria complicado a cena do assassinato da mãe de Aiko, por exemplo?

Aah, acho que teria desenhado um pouco mais simples. Por exemplo, naquela cena em que ele pendura o pescoço, desenhei Punpun repetidamente. Se naquela situação ele tivesse que mostrar claramente o rosto, acho que talvez fosse muito duro para o leitor. Acho que minha maneira de expressar isso teria sido bem diferente.

Seria como se o simples aparecimento de Punpun, em contraste com o mundo detalhado, permitisse ao leitor focar mais nas ações, no que estava acontecendo …

Sim, no final percebi que foi esse o efeito que produziu.

A cena do assassinato parecia particularmente real. A situação é apresentada como algo totalmente natural, mas ao mesmo tempo é tremendamente chocante psicologicamente falando. Por que você queria retratá-la dessa forma?

Mmmh … Não é muito comum ver mangás em que o protagonista mata alguém, por isso queria que se sentisse bem vivo e revigorado. Como observação lateral, sei que isso não é muito normal, e de forma alguma estou dizendo que faria, mas pessoalmente tenho essa fantasia. Eu sei que parece estranho, mas é verdade. Tenho uma ideia de como seria se em algum momento eu acabasse matando alguém. Eu queria capturá-lo da maneira mais real possível.

Você antecipou a próxima pergunta. Acho que quase todo mundo realmente experimenta a mesma fantasia. Não conseguir lidar com uma situação que te ultrapassa e que a situação acaba com a morte de alguém (como acontece no mangá), é algo que pode acontecer a qualquer pessoa. Eu estava pensando em perguntar se você também tinha …

Oh. Sim, eu tenho (risos), embora nunca tenha feito isso, uh … (risos).

Você tinha todos os eventos principais da série em mente desde o início?

Em relação à história de Punpun e Aiko, sim; Eu tinha decidido praticamente desde o início. Os episódios dos outros personagens foram surgindo mais tarde. A questão é que se eu apenas desenhasse sobre Punpun e Aiko, tanto eu ao desenhá-lo, quanto os leitores ao lê-lo, teriam sentido a história muito limitada emocionalmente. Ao introduzir episódios focados em outros personagens do meio, de certa forma, isso foi amenizado um pouco. É por isso que decidi escrever sobre todos os outros personagens.

A estrutura da história parece criada para fazer os leitores se apaixonarem pelos personagens e, em seguida, apresentar reviravoltas sombrias que afetam a maneira como suas vidas se desenrolam. Você recebeu alguma reclamação dos leitores?

Huh, reclamações? Hum … mmh … Acho que o tom da história fez os leitores já perceberem o que estava acontecendo de alguma forma, então, surpreendentemente, não recebi muitas reclamações sobre isso. Eu sei que tinha muita gente que gostava de mangá até a primeira parte, quando Punpun estava no ensino fundamental, por todo o aspecto da nostalgia e assim por diante. Mas aquela lista de leitores o abandonou logo. Quem ficou e continuou lendo a segunda parte e o final, entendeu o que eu realmente queria contar.

Você queria acompanhar esses leitores leais tornando a história cada vez mais séria?

Não, para mim não era necessário corresponder às suas expectativas. Queria apenas retratar da forma mais perfeita possível o que já havia decidido criar. Se daí surgissem leitores que reclamassem ou objetassem, parecia-me que seria algo inevitável.

Certa vez, você mencionou que a história paralela de Pegasus é uma homenagem e ao mesmo tempo uma desconstrução do mangá shonen clássico, é isso? Parece que a maioria dos leitores não entendeu essa alegoria. Você poderia nos dizer se realmente ele estava lutando contra as forças do mal?

Ah haha. Isso fica no mundo da imaginação … Cada leitor é livre para interpretar como quiser. Mas é verdade que o apresentei com a intenção de que pudesse ser interpretado dessa forma. Se isso é verdade ou não, não é importante.

Existe uma clara distinção entre o que é a história romântica de Punpun, e o enredo mais típico de um shonen centrado em Pégaso procurando recrutar 12 companheiros para lutar contra as forças do mal.

Sim. No mangá de Punpun existem vários opostos, pretos e brancos. É o caso de Aiko e Sachi, ou Punpun e Pegasus. Em tudo era como desenhar as duas partes, a luz e a escuridão. Assim como no Punpun eu estava me afastando do que era um mangá típico, com o Pegaso eu tentei fazer algo mais próximo do tradicional. Punpun é como Darth Vader, voltando-se cada vez mais para o lado negro; por outro lado, Pégaso tem um coração muito puro, que afirma viver confiando nos outros. Eu queria mostrar esse contraste.

Foi uma forma de encontrar equilíbrio na história?

Sim. Em vez de deixar uma única mensagem, quis mostrar que também é possível encontrar uma resposta quando há duas opiniões completamente opostas. Eu queria desenhar as duas posturas na mesma proporção.

Punpunia representa a esperança e o desejo de Punpun de salvar o mundo, enquanto o gigante Daruma representa sua dor crescente que eventualmente retorna para destruir tudo?

Aah, sobre isso … eu incluí meio forçosamente. Eles não têm um significado tão profundo. Acho que Daruma é uma metáfora para o mal que está dentro de Punpun. Seu desejo, o que ele sempre desejou no fundo, é se tornar mais forte. Como conclusão final, pode-se dizer que Aiko… mmh… Como posso explicar…? No final, ela morre; mas mesmo assim, percebendo que ele estava presente para Aiko, ele entendeu que de alguma forma essa tinha sido a razão de sua existência. Mais tarde, quando ele aceita e sente “Eu não me importo se eu morrer”, isso se tornaria a forma completa de Punpun. Punpun atingiu esse estado, que é o que seu personagem acabou se tornando.

Durante a serialização do mangá, aconteceu o grande terremoto Tohoku de 2011, e você decidiu incluir uma menção a isso na história. Como a tragédia afetou você pessoalmente? A história influenciou ou mudou alguma coisa daquele ponto em diante?

Em relação ao terremoto, ele é citado no mangá, sim; Mas se eu deixasse afetar a história, eu teria acabado mudando os objetivos que tinha ao contá-la desde o início. Procurei ao máximo evitar que isso influenciasse e, para isso, justamente, foi que o incluí na história em um único capítulo. Naquela época, quando o terremoto aconteceu, foi um evento tão grande que outros mangakas também tiveram que tomar uma importante decisão de recorrer a ele ou não. A maioria decidiu não fazê-lo; mas não me pareceu natural não incluir absolutamente nada, e fiz isso, mas apenas em um capítulo, com a intenção de que não afetasse “Punpun” mais do que isso. No mangá que estou publicando agora (Dead Dead Demon’s Dededededestruction); como aconteceu depois do terremoto, essa noção, a sensibilidade em relação a essa questão está muito presente. Naquela época, lembro-me de ter decidido não pensar muito sobre o terremoto até terminar de desenhar Punpun.

No início Boa Noite Punpun foi serializado em Young Sunday, mas infelizmente a revista foi descontinuada e o mangá continuou na Big Comic Spirits. Ambas são da Shogakukan e ambas são seinen, mas você percebeu se houve alguma mudança no público leitor?

Pelo que pude ver, quase nada. Sendo muito rigoroso, são revistas diferentes, mas quando a Young Sunday fechou e suas séries em publicação foram para o Big Comic Spirits, praticamente metade dos mangás dessa revista acabarando sendo obras da antiga Young Sunday (risos). Então eu não notei nada estranho, parecia quase o mesmo de antes. Alguns dos mangakas com os quais compartilhei a revista mudaram, e também havia alguns artistas da Spirits que eu gostava e foi bom poder publicar com eles. Mas quando se trata de desenho, não, nada mudou.

Você sente que algo se perdeu com o fechamento do Young Sunday, em termos de mercado de mangas?

De forma alguma (risos). Se eu tivesse que dizer algo, mmh … er … não, nada. Realmente, absolutamente nada. Os mangás em andamento acabaram distribuídos em outras revistas, mas o fechamento da Young Sunday não teve nada de especial. Naquela época, muitas revistas desapareceram. Hoje em dia, dificilmente acontece de uma publicação ser suspensa; então acho que foi mais um período em que se repensou o que eram as revistas de mangá, sua viabilidade no mundo de hoje.

Você considera que ultimamente o “intervalo” que existia entre o manga seinen e o shonen foi reduzido? Muitos títulos seinen parecem incorporar elementos de shonen e vice-versa, com mangas shonen ficando ligeiramente mais obscuros. Você acha que os dois gêneros estão se aproximando?

Sim, a verdade é que acho que acontece isso, sim. E o que isso significa? Que os leitores de mangá se tornaram mais adultos em média. Crianças não leem mais tanto mangá. Se eu pensar em como vai continuar daqui a 10 ou 20 anos, é algo que me preocupa um pouco …

Falei recentemente com Takehiko Inoue (Slam Dunk, Vagabond), e ele me disse que quando ele teve que julgar um concurso de mangás da Shueisha, ele ficou impressionado com o fato de que a maioria dos participantes estava fazendo histórias bastante sombrias, mais seinen. Ele expressou exatamente a mesma preocupação.

Ah, olhe só. Entendo…

Durante a serialização de Boa Noite Punpun você também desenhou Umibe no Onnanoko que contém cenas sexuais bastante explícitas, mas ainda é outra forma de história romântica. Você também desenhou o mangá cômico Ozanari-kun, que acabou se revelando uma história romântica gay. Foram peças que você fez para escapar um pouco do drama de Punpun?

Hmm… Com relação ao primeiro, quando eu estava desenhando Punpun havia algumas expressões sexuais que eu não conseguia desenhar tão livremente na revista onde a série era publicada. Por outro lado, a revista onde apareceu Umibe era naquela época muito mais aberta com relação a esses tipos de cenas. Era o momento certo e eu senti que se não o fizesse mais tarde seria muito mais difícil para mim fazê-lo. Desenhei pensando: “É melhor fazer isso agora que posso”. Essa revista também desapareceu há muito tempo, e agora não há mais lugares para desenhar algo desse estilo. Em relação ao Ozanari-kun, o motivo foi outro. Eu só queria ser capaz de desenhar algo sem me preocupar muito. Acontece que um conhecido editor, com a renovação de outra revista, ficou com duas páginas livres e me pediu para desenhar algo para cobri-las. Isso é o que eu tenho da época..

Em todos os seus trabalhos, exceto em Ozanari-kun, você usa fotografias e referências 3D-CG que acabam dando aos seus mangás um realismo incrível. Como é o processo? Requer muitos assistentes para realizá-lo? Você planeja continuar usando este recurso em todos os seus trabalhos futuros?

Acho que uso as fotografias para destacar o dia a dia onde os personagens vivem. Em termos de número de assistentes, é necessário muito menos do que os fundos tradicionais de mangá exigiriam. Mesmo aqueles que não são necessariamente tão hábeis no desenho podem gerar bons resultados usando esse método. Nesse sentido, acaba sendo algo, digamos… “barato”, com uma boa relação custo-benefício. É um método muito conveniente, sim; Mas se você usar muito, tem hora que acaba não combinando muito bem com o estilo de um mangá. Não acho que seja algo que funcione bem em todos os tipos de obras. É possível que no futuro eu mude a forma como faço meus fundos e me volte para desenhos menos carregados. Acho que vai depender do conteúdo da história que você deseja contar.

Em Ozanari-kun claramente não tem fotos para referência. (risos)

Não, absolutamente nada! (risos) Com Punpun eu sinto que houve momentos em que eu estava muito preocupado com os detalhes dos fundos, e com Ozanari-kun eu queria mostrar a todos que eu também poderia desenhar mangá sem ter que recorrer a isso. Muitas pessoas me conheciam por usar fotografia de fundo e eu estava preocupado que essa fosse a única coisa que elas imaginariam ao pensar em mim. Eu também gosto muito de mangás como Ozanari-kun e o humor de 4-koma que costumava fazer no início da minha carreira. Sempre me chamavam, e se surgisse a oportunidade eu queria aproveitar para desenhá-los. Acho que os dois estilos são igualmente bons para fazer mangas. Queria mostrar que também gosto deles e que posso fazer as duas coisas.

O amor jovem e os relacionamentos interpessoais são elementos centrais em todas as suas histórias. O nome de Aiko também é composto pelos kanji para “amor” e “criança”. É o resultado de alguma experiência romântica pessoal que o influenciou ou veio puramente da sua imaginação?

Hmm, não que haja um modelo direto para Aiko, mas havia alguém real que viria para preencher o papel dela. Agora não tenho mais nenhum relacionamento com aquela pessoa, mas tinha uma fixação particular por ela. Acho que quando estava desenhando Punpun consegui fazer o personagem Aiko graças a ela. Embora isso já seja coisa do passado …

Normalmente, os autores usam os protagonistas para expressar ou manifestas suas próprias opiniões ou sentimentos. Mas nesta história você inclui diretamente uma personagem que teve um começo complicado em sua carreira como mangaká, e no final é revelado que ela mesma criou o mangá Boa Noite Punpun. Ela tem uma visão de vida praticamente oposta aos outros [dois protagonistas]; Ela escolheu mudar sua aparência por sua própria vontade, manteve uma confiança inabalável para alcançar o sucesso e ganhar a vida e, no final, até sustenta um filho. Sachi é uma representação de seu “eu ideal”, em vez de Punpun e suas inseguranças?

Em contraste com Aiko, Sachi é uma pessoa com uma mentalidade muito realista, uma pessoa confiável. O que vou dizer é um tanto constrangedor, mas Sachi foi baseado em uma mulher com quem eu estava namorando. Escolhi uma pessoa que contrastava com o que a Aiko é e no final acabei terminando com ela… Então acho que não tive sorte com nenhuma delas (risos). Ambas têm características muito positivas, mas não me dei bem com nenhuma delas … (risos)

Se Sachi é a criadora do mangá, ela não mencionaria o nome verdadeiro de Punpun, nem mostraria seu rosto, isso seria para proteger sua verdadeira identidade quando fosse publicado? Depois de ler o mangá, entende-se que o que Punpun menos gostaria é ser lembrado… Você tinha outros planos para o fim?

O fato de Sachi ser a autora de “Boa Noite Punpun” é algo que decidi perto do fim. Acho até que não foi totalmente necessário. Quando chegou a hora de terminar a história, o que eu queria fazer para completá-la era encontrar uma maneira de voltar ao início. Chegue ao fim, dê uma volta e recomece de alguma forma. Eu sinto que acabou sendo um pouco forçado …

O último capítulo com Harumi se parece muito com o primeiro capítulo …

Exatamente! A própria história é a relação de Punpun com Aiko. Aiko morre, Punpun fica sozinho, aceita e obtém certo tipo de satisfação. É aí que a história termina, mas se eu imediatamente a deixasse lá, ninguém iria entender o que realmente aconteceu. Então, para fechar a narrativa de uma forma mais completa, fiz aquele fechamento circular, para que a história recomeçasse de alguma forma.

Então, voltando ao que discutimos antes, você consideraria um final feliz?

Não me importo muito em tornar os finais felizes; mas, ao fazer esse fechamento circular, é como se a história de Punpun se repetisse indefinidamente, e para o leitor isso pode não ser necessariamente uma sensação agradável. Eu queria terminar dando aos leitores esse impacto.

Você releu o mangá depois de terminado? Você notou algo que não percebeu na hora? Ou algum aspecto que você sentiu que talvez pudesse expressar melhor?

Reli várias vezes. Quando desenhei, estava muito concentrado, por isso não sinto que me esqueci de nada. Eu me lembro de tudo, então não há nada de novo que eu descobrisse depois. Acontece que quando eu li, eu percebi que naquela época eu estava totalmente carregado, que estava totalmente dedicado a fazer isso (risos). Eu sei que estou dizendo isso, mas Punpun realmente é um mangá muito interessante. Desenhar não foi nada fácil, mas foi muito interessante.

Agora você está publicando Dead Dead Demon’s Dededede Destruction, uma história sobre a vida diária de estudantes do ensino médio em Tóquio sobrevoado por um grande OVNI. Desta vez, também, você planeja fazer os leitores gostarem de Kadode e Ouran, e depois dar um toque sombrio à história? (risos)

Bem, isso é um spoiler, mas sim, essa é a intenção. Ao contrário de Punpun, gosto muito das personagens Kadode e Ouran. A razão para isso é que elas não são nada parecidas comigo, são pessoas completamente diferentes. Eu as vejo como duas garotas muito legais, mas em termos de história, um evento especial vai acabar acontecendo, e já estava na hora de eu ter que desenhá-lo … É uma pena, porque se possível eu teria querido continuar desenhando-os por muito mais tempo. Me diverte muito desenhar Dededede, gostaria muito de poder prolongá-lo para sempre mas muito em breve terá que chegar o fim.

Você já tem toda a história planejada com antecedência, assim como aconteceu com Punpun?

Sim, já tenho praticamente todos os eventos futuros decididos.

Em seus trabalhos, um tema recorrente é a sensação de que o mundo está muito próximo do fim. É um sentimento que você compartilha pessoalmente? Existe algo que o preocupa em particular?

Na verdade, acho que a partir de agora o mundo vai ficar cada vez melhor. Eu acredito seriamente que todo mundo, que o meio ambiente, vai melhorar. É definitivamente uma coisa boa, mas como eu tendo a ser meio negativo, acho meio chato que todos estejam sempre felizes (risos). É por isso que costumo dizer que quero que o mundo acabe, mas no fundo realmente acredito que tudo vai progredir.

E agora para encerrar, você gostaria de dizer algo por último para seus fãs na Argentina e em outros países de língua espanhola?

Eu sei que meus mangás não são algo que a maioria das pessoas ache interessante. O grupo de leitores que me apoia é bem pequeno… Mas como mencionei antes, até no Japão o número de leitores de mangá está diminuindo progressivamente; então realmente me salva o fato de que há pessoas lendo minhas obras ao redor do mundo. Graças a todos posso continuar comendo (risos). Se eu não tivesse esse bando de gente lendo, com certeza teria que abandonar o desenho. Comparado a cerca de dez anos atrás, graças às redes sociais, agora estou mais ciente de que tenho uma audiência em outros países. Eu acreditava que minha personalidade se devia necessariamente ao fato de ter nascido e crescido em um país como o Japão, mas descobri que não era. Pude perceber que também existem pessoas como eu em muitos outros países, não importa onde vivam. É uma sensação estranha de alívio. Saber que tem gente que consome minhas obras em um país como a Argentina, sinto que isso me salva. Não creio que mude muito a minha forma de desenhar, mas espero que apesar disso continuem a ler-me…


OBRAS DE INIO ASANO LICENCIADAS NO BRASIL



OUTRAS TRADUÇÕES DE ENTREVISTAS


8 Comments

  • […] As obras de Inio Asano estão diretamente relacionadas com sua personalidade, pensamentos e vontades. Isso se aplica a todas as obras artísticas, mas esse autor é o tipo que você reconhece de longe. Segundo ele próprio, sua vontade de desenhar mangás está relacionada com sua antipatia aos estudos, aos 18 anos esse foi seu meio de escapar, conforme entrevista dada à editora IVREA, que encontra traduzida aqui: https://blogbbm.com/2021/06/16/traducao-entrevista-com-inio-asano-para-a-ivrea/ […]

  • Anônimo

    Adorei! Acompanho o Asano há pelo menos 10 anos, é fico contente de saber como seu processo criativo tem se desenvolvido. Sempre que possível postem sobre esse autor, que tem muito para ensinar com suas obras fora da curva.

  • Uuuuuaaaauuuu… Amei a entrevista, tremi com os spoilers. rsrs

    Quando possível nos traga mais matérias sobre o mercado de mangás na America Latina. Ontem eu estando relendo essas matérias aqui no site e é muito interessante saber o que nossos vizinhos andam lendo.

  • Leo Medeiros

    Asano é interessante, mas ainda odeio esse erro de foco dele tanto em como desenvolveu a Aiko quanto no flashback do Yuichi…

  • Valeu pela tradução, Kyon \o/
    Gostaria que mais autores desses entrevistas assim, o que eu ri com Asano falando que virou mangaka pra não estudar não tá escrito kkkkkk
    Agora vou lá bater minha cabeça na parece até esquecer os spoilers de Punpun u.u

  • Takuma Sakazaki

    Obrigado por trazer esta entrevista traduzida e parabéns pelo excepcional trabalho no blog!

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